Há cinco anos, um estudo realizado pelo Centro de Estudos da Universidade Católica de Angola criou-me enormes calafrios. Fez com que passasse algumas pessoas com deferência e outras com descaso. O estudo sobre o impacto da corrupção na construção civil em Angola apontava para um rombo de mais de 20 mil milhões de dólares deste sector.
E ao mesmo tempo se concluía que, entre 2002, anos em que Angola chegou, efectivamente à paz, depois da morte de Jonas Savimbi, e 2017, em que se dá a subida de João Lourenço ao poder, terão sido investidos em infra-estruturas no país cerca de 150 mil milhões de dólares norte-americanos. Vezes há em que quase pensamos que os zeros mencionados em Angola não têm a mesma importância com os que vimos noutras partes do mundo.
Se assim fosse, independentemente das dificuldades que se observam num e noutro ponto, a disparidade ou a diferença entre as obras feitas e os valores apresentados seriam de algum modo menos afastados. A mim, quando se apresentou o referido e se avançou alguns dos milhares de milhões desviados, preocupou saber onde teriam sido encaminhados e as razões daqueles que o fizeram sem pestanejar.
Os resultados da luta contra a corrupção, que muitos colocam em xeque, por não se ver incluído alguns nomes que se acreditam também terem delapidado o país, demonstram que grande parte dos recursos angolanos foram domiciliados em territórios europeus, asiáticos, americanos e, exiguamente, africanos. Na sua maioria, apesar das críticas que muitos fazem, os dinheiros saíram de Angola por iniciativa de cidadãos angolanos, mas acabaram por aportar em instituições bancárias inter- nacionais com os detentores — inicialmente angolanos — já transformados em cidadãos destes países.
Em muitos destes casos, a tarefa torna-se mais difícil ao Estado angolano por lidar com indivíduos que exerciam funções enquanto nacionais de Angola ou empresários que supostamente tenham nascido entre nós, mas a recuperação é hoje solicitada a cidadãos destes países. Estamos lembrados, por exemplo, que o primeiro-ministro cessante de Portugal, embora se tenha manifestado disponível em colaborar com a justiça angolana, manifestara receio de se retirar os milhões ou biliões que se encontram na economia local.
Aos poucos, vou-me convencendo de que terá chegado a hora de Angola rever a sua lei da nacionalidade, alterando determinados preceitos que nos deixam em perigo devido à falta de patriotismo que muitos dos nossos concidadãos foram apresentando ao longo dos tempos. Sem desprimor aos que tenham nascido fora de Angola, por inúmeras razões, mas é à socapa de outras nacionalidades que muitos delapidaram — ou ainda continuam a delapidar — este país. É só ver onde esconderam os largos biliões que saíram do país no melhor momento em que se poderia cimentar a economia nacional.