Agostinho Neto nunca deixará de ser uma figura incontornável da vida política, económica e social do país.
O facto de ter sido o primeiro Presidente da República de Angola e aquele que proclamou a sua independência associar-nos-á, pelas boas ou piores razões, ao médico falecido há 44 anos em Moscovo, ainda na antiga União Soviética.
E estando em Setembro, o mês que lhe é dedicado quase ao fim, porque não recuarmos um pouco mais aos seus ensinamentos e àquilo que há quatro décadas o próprio chamava a atenção de alguns dos seus correligionários.
Os últimos acontecimentos, protagonizados sobretudo por políticos angolanos, em Lisboa e arredores pela velha Europa, levaram-me a recuar aos dizeres de Neto, numa visita que efectou, segundo a qual muitos dos seus ainda estavam com saudades de Portugal, das uvas, do friozinho.
Mas sugeriu-lhes que aqui mesmo em Angola, nas regiões frias do Namibe e noutros pontos se poderia encontrar um ambiente propício para férias e até as uvas que hoje, graças ao engenho de empresários angolanos, originaram igualmente boas safras para vindima e um excelente “tintol”.
Foram pronunciamentos feitos pouco depois da independência.
Na época em que se esperava criar o homem novo e que aos ‘antigos’, se assim se pudessem considerar, caberia apenas estender os ensinamentos de Neto que nos levariam a um verdadeiro desenvolvimento sócio-político.
É comum dizer-se que os políticos também são humanos. Gozam dos mesmos direitos e deveres que os demais cidadãos, o que para mim não corresponde a verdade se se tiver em conta que muitos destes personalizam as agremiações políticas que nos governam e outros aqueles que pretendem nos dirigir um dia destes.
Mas assim não é. As acções de um mau político ou governante acabam sempre por beneficiar favoravelmente ou chamuscar as organizações políticas em que estão associadas, sobretudo quando as situações em que se envolvem dão à sociedade uma imagem de luxuria, esbanjamento ou despreocupação para com os cidadãos a quem pedem compreensão em tempos difíceis como os que vivemos.
As saudades que Neto quis que fossem travadas e que poderiam beneficiar Angola parece que permanecem intactas.
Não só no seio daqueles que nos dirigiram, alguns que dirigem, assim como aos seus descendentes, poucos dos quais ensinam a amar este país que lhes proporciona as festanças e os banquetes hoje tristemente difíceis de se tornarem notícia.
É preciso que alguma voz de comando volte a inspirar quem se apresenta como solução para os problemas dos angolanos.
Não pode ser deles que provenha o que de mais nefasto pode acontecer a quem lhe é exigido que aperte o cinto e acredite em dias melhores.
A batalha para que muitos não exportem o capital para o exterior e deixem aqui o dinheiro que ao menos iria proporcionar mais postos de trabalho e investimentos parece ainda distante os êxitos desejados a nível do combate à corrupção, se se tiver em conta que terão saído de Angola mais de 100 mil milhões de dólares.
Agora, é preciso que quem esteja num campo de combate político permanente, com uma oposição à perna o dia todo, saiba que é fornecendo esse tipo de munições que se podem complicar ainda mais a manutenção do poder e a ganhar a confiança de determinados círculos.
Sun Tzu, no seu livro ‘A arte da guerra’ dizia que existem vários tipos de lugares, como os de divisão, leves, disputados, reunião, cheios e unidos, com várias saídas, graves e importantes, deteriorados e mortíferos.
Portugal têm sido um destes lugares e as suas consequências a nível da opinião pública ajudam a compreender em termos políticos. Basta escolher.