Longe de assistir o que se vê em muitos parlamentos pelo mundo fora, o que é bom, porque não imaginamos sequer ver sapatos no ar, agendas e lapiseiras, ainda assim não se deixa de destacar que nos últimos tempos a tensão tem subido sobremaneira na Assembleia Nacional.
Nos últimos dias, a pretensão da UNITA em apresentar um processo para se destituir o Presidente da República, João Lourenço, tem sido mote para alguns desaguisados políticos.
Como era de prever, até porque os camaradas haviam deixado claro, num primeiro momento, que não iriam cair nos intentos do maior partido da oposição, ontem, uma vez mais, o líder da Bancada Parlamentar, Virgílio Fontes Pereira, foi peremptório, em alto e bom tom: ‘ não haverá destituição do Presidente da República. E ponto final’.
Embora politicamente nada o impeça de partir para uma aventura do género, quase que não existirão dúvidas de que se trata somente de um expediente mediático da UNITA se se tiver em conta que dificilmente a bancada do MPLA votará contra o seu líder para dar esse gostinho aos seus adversários.
Em princípio, era suposto ter sido ontem que os ‘maninhos’ dariam um passo em frente. Mas, distante do que se tinha avançado, quase que não houve nada, o que pode ainda se consubstanciar que se esteja ciente de uma iniciativa cujos ganhos são efémeros, afastando inclusive até alguns que se presumiam ser aliados dos proponentes.
Aliás, até mesmo entre os integrantes da oposição, não há nesta fase unanimidades que possam fazer com que caminhem a solo contra o partido no poder, sendo que até alguns integrantes do próprio Parlamento vieram a público dizer que não estão para seguir orientações políticas de forma cega.
Infelizmente, embora se reconheça, igualmente, que se esteja a dar muita atenção ao assunto, algo que seria normal em democracias, assusta o hipotético sonho que se vai vendendo para muitos que desconhecem como funcionam as leis no país.
Há quem lá fora, distante da política e dos seus autores, estará a ver neste ponto uma saída para que, por exemplo, quem tenha perdido as eleições de há um ano assuma as rédeas do jogo. Só que não. Nem seria assim caso se concretizasse o sonho actual da UNITA.
Primeiro é que o líder da Bancada Parlamentar do MPLA, Virgílio Fontes Pereira, já disse que não terá êxito, porque tem a confiança dos seus pares. Segundo, é que o alvo parece ser só a figura do Presidente da República, João Lourenço.
Terceiro, há muito que os deputados da UNITA estão conscientes de que mesmo que hipoteticamente um sonho aconteça, o lugar sempre seria ocupado por uma figura do MPLA, no caso a Vice-Presidente da República, Esperança Costa, eleita na mesma lista do partido liderado pelo Presidente da República, cujo programa está em implementação. Mas pelo dizer do deputado Virgílio Pereira, nem em sonho a UNITA verá este prazer satisfeito.