Sempre que passasse pela via expressa, no sentido Zango-Benfica, uma imagem prendia a atenção de um dos lados. Perguntava-me com regularidade como era a vida das empresas e centros comerciais perante a azáfama de vendedores ambulantes à entrada e se conseguiam ter clientes vendendo o mesmo que os seus adversários do outro lado da rua.
Imagine que todos os dias, depois de uma série de investimentos, e impostos para serem pagos ao Estado, que não desarma na hora de efectuar a cobrança, e à porta do seu estabelecimento também estivessem estes mesmos concorrentes a vender os mesmos produtos, com a confusão que se faz sentir nos pontos onde diariamente acorrem aos milhares. São dois ou três centros comerciais que todos os dias viviam isso.
Naquela parcela e há outros em Luanda que vivem o mesmo dilema todos os dias. São acossados pelos ambulantes e acreditamos que os seus gestores ou até mesmo proprietários procuram a todo o custo compreender como ultrapassar este dilema. Há vários anos que o Executivo angolano tem procurado fórmulas milagrosas para contrapor a venda em locais impróprios.
Apesar da musculatura exibida pelas forças policiais e ameaças vela- das ainda assim estamos longe de encontrar uma fórmula que se tenha mostrado eficaz. Luanda, a cidade dos mil e um problemas, vê entrar e sair governadores. Cada um com a sua bolinha mágica não consegue contrapor o exército de vendedores, que no fim do jogo, por razões várias tenta sobreviver, apesar da ilegalidade da prática que os cidadãos exercem, quando existem aos milhares pela província os mercados com as bancadas vazias.
Creio que este sentimento de derrota se tenha apossado, durante muito tempo, dos gestores de tais unidades. Nem mesmo a pressão das forças da ordem conseguia demover os vendedores. Foi daí que terá surgido a ideia inusitada de barrar com betão todos os espaços em que se concentravam os concorrentes indirectos. Olhando para os espaços das lojas vê-se, clara- mente, que as vendedoras ou vendedores desapareceram pura e simplesmente. Mas não tinha como se se tiver em conta a solução adoptada pelos empresários, mas que não surtiriam efeitos em muitas partes da capital do país.
É que todos os espaços em que ainda se praticava a venda desordenada – ou ambulante- foi ocupada com estruturas de betão. Não aquelas simples estruturas de concreto, mas sim autênticas monstruosidades que não permitem sequer que os vendedores mais antigos ou principiantes trepem para a contrapor a investida dos empresários.
A solução adoptada por alguns empresários na via expressa é pontual. É um muro da liberdade. E a localidade em que estão facilita. Porém, não há dúvidas de que existirão outros que lutam diariamente com concorrentes que não têm os mesmos encargos que eles. E, aos poucos, a zunga, venda ambulante ou mercado de esquina vão disputando espaços com aqueles a quem o Estado cobra tudo e muito mais.