Um dia depois do encerramento da I sessão legislativa da V Legislatura, em que não deixou de ficar clara a tensão entre os dois maiores contendores políticos, a UNITA deu início àquilo que acredita ser um processo que levará à destituição do Presidente João Lourenço.
A sessão, que ocorreu num dos hotéis da capital, aconteceu no mesmo dia em que chegavam a Luanda, por estes dias a capital da SADC, os líderes e chefes de governo dos países que integram esta comunidade, por sinal uma das mais estáveis do continente.
Em democracia, timings e desejos, desde que não firam com qualquer direito constitucional são aceitáveis, cabendo aos adversários dos proponentes os contraporem com base nos argumentos por estes evocados. E não parece que tenha havido só coincidência.
À partida, apesar de todo o frenesi lançado nesta rampa de lançamento, sobressalta o facto de o maior partido da oposição estar a caminhar praticamente sozinho. Além dos 59 votos que julga poder conseguir do MPLA, um desígnio que o líder do Grupo Parlamentar dos ‘camaradas’ diz que não vai ocorrer em nenhuma ocasião, ressalta-se ainda que até mesmo entre os seus próprios pares da oposição, isto é, a histórica FNLA, o PRS e o PHA, de Bela Malaquias, não colher qualquer simpatia nesta ‘aventura’ com respaldo constitucional.
Embora em termos de jogada política possa ter o seu mérito, por de algum modo estar a atingir círculos mediáticos, os primeiros sinais indicam o que muitos desde cedo concluíram: trata-se de uma ousadia política cujo desfecho à partida se conhece: não haverá destituição.
O não convencimento de partidos que supostamente seriam aliados, como os acima mencionados integrantes da oposição, é, para já, o início de que não se tem a mesma percepção em relação aos motivos evocados, assim como a pretensão. E pior ainda será, longe destes, buscar respaldo nos representantes parlamentares do MPLA, partido dirigido por João Lourenço.
A esperança de que alguns dos camaradas possam votar contra o seu líder é válida também para os maninhos, onde, em voto secreto, se calhar, alguns possam também não votar contra nesta jogada arriscada, cuja finalidade parece assentar mais em ganhos mediáticos devido à correlação de forças existente.
Mesmo se apresentado o factor doença para justificar a não comparência de três parlamentares seus, acabou, igualmente, por levantar suspeitas, até mesmo por figuras da sociedade que inicialmente se mostravam convencidos de que teriam uma unanimidade.
As cenas dos próximos capítulos prometem.Mas, aos poucos, muitos se vão convencendo de que é preciso que a agenda política seja definida por outros temas, porque o parto desde impeachment à mwangolé vê-se doloroso. Sem contar que mesmo que tivesse êxito, uma hipótese quase que impossível, segundo os camaradas, nunca o poder saltaria para já para as mãos da UNITA ou de uma outra organização, como alguns de forma errada vão interpretando.