Quase 14 anos depois, o nome de Mohamed Bouzazi é praticamente desconhecido para muitos. Aos mais novos se pode compreender, aos mais velhos pode parecer alguém estranho, embora pela denominação se perceba que seja alguém oriundo do Magreb.
Aos 26 anos de idade, Bouazizi ateou fogo ao próprio corpo, depois de ver a sua banca de produtos, na Tunísia, apreendida pelas autoridades policiais locais, o que veio por desencadear uma maré de manifestações a que se veio apelidar ‘Primavera Árabe’, cujas consequências ainda são visíveis nos nossos dias, como veio a ocorrer na Síria recentemente.
Os acontecimentos na zona do Magreb, com epicentro na Tunísia, estenderam-se a outros países como a Líbia, Egipto, Iémen e a própria Síria. Nalguns, observou-se a queda dos seus líderes no ano de 2011, com destaque para Bem Ali, Kadhafi e Mubarak. E um ano depois de Ali Salhem, no Iémen.
Os ventos que sopravam naquela altura fizeram com que, noutras regiões do continente africano, também se começasse a aventar a possibilidade da sua ocorrência. Entre nós, angolanos, alguns, de forma camuflada, não escondiam o sonho de que a mesma convulsão se estendes- se ao nosso território, não se importando com as diferenças dos referidos processos e muito menos com os factores históricos existentes na construção da nossa jovem democracia.
O certo é que, de forma sobretudo mais negativa, os efeitos da primavera árabe ainda se fazem sentir até aos nossos dias. E parte da convulsão que se vive hoje na zona do Magreb, incluindo o recrudescimento de grupos terroristas como o Estado Islâmico ou o HTC, que depôs o líder sírio, acaba por ter reminiscência na primavera cujos resultados os seus mentores iniciais nem sequer previram.
E sempre que há um fenómeno, social ou político, há uma tendência de muitos pretenderem ver ocorrer também em território angolano. Já não há um exercício para se analisar os factores e factos entre o nosso país e os demais, julgando alguns dos defensores de tais teses que, se lá aconteceu, então, aqui também pode ser.
Os últimos acontecimentos em Moçambique são prova disso. E não é para menos, porque o próprio candidato da oposição, Venâncio Mondlane, que se apresenta como sendo vencedor das últimas eleições no seu país, acaba até por gastar muito mais tempo das suas preleções olhando mais para Angola do que para o seu próprio território.
Como se não bastasse, momentos há em que até parece lançar, embora de forma verbal, uma espécie de cartilha que alguns supostos seguidores, sobretudo políticos que se vão postando com a nova coqueluche da política africana, como se de autênticos estudantes ou aprendizes se fossem. Aprendemos desde cedo que cada caso é um caso, o que deve fazer com que alguns apologistas de soluções semelhantes para situações não similares não apregoem a teoria do caos.
À semelhança de exemplos passados, como na primavera na Tunísia, outros Estados acabaram mergulhados num mar de problemas que, até aos nossos dias, se parecem sem solução à vista.