Éramos novos quando ainda na década de 80, meados e finais de 90 nos deslocávamos com alguma frequência à Estação dos Musseques. Para muitos este nome pode não dizer muito, mas é o local em que ainda hoje alberga a estação dos Caminhos de Ferro de Luanda e, nas proximidades, o mercado do Tunga Ngó.
Quem viesse de comboio da parte norte para Luanda, isto é, entre Malanje, Cuanza Norte e Bengo, parte desta última hoje integrada na província que tem a capital do país, chegava através desta estação e consequentemente da linha férrea que compreende o chamado Caminhos de Ferro de Luanda (CFL). Da estação dos Musseques chegavam com os populares várias estórias, muitas das quais directamente ligadas aos populares que desembarcavam os comboios, algumas das quais inesquecíveis. Quem não se recorda por exemplo das insinuações em relação ao que se passava entre malanjinos e catetistas por causa da mesma linha férrea.
Olhando-se para aqueles carris, modernizados, é possível recuar no tempo. Rever os períodos que antecederam a independência nacional, analisar a fase de guerra e a sua importância e hoje, no mínimo, prever a importância que ainda tem para o desenvolvimento do país, sobretudo nesta fase de diversificação da economia.
Depois do fim de guerra, após a morte em combate de Jonas Savimbi, em 2002, no Moxico, o Governo, então liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, estabeleceu como prioridade a reabilitação dos transportes ferroviários, tendo sido abrangidos os caminhos-de-ferro de Luanda, Benguela e Moçâmedes devido à importância estratégica de cada um deles.
Nos últimos dias, os Caminhos-de-ferro de Benguela (CFB) ganharam notoriedade devido à sua exploração por um consórcio internacional, assim como a importância estratégica que o corredor do Lobito tem para Angola, República Democrática do Congo, Zâmbia e demais países da África Austral.
Por estes dias, ouviu-se também falar do Caminho de Ferro de Moçamedes. Restava, afinal, saber o que estava reservado para o CFL depois de tantos investimentos feitos no âmbito do Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN), em que foram despendidos largos milhões de dólares norte-americanos.
Fala-se com alguma insistência da possibilidade de estas linhas puderem transportar centenas de milhares de mercadorias produzidas a nível interno como de outros países. Porém, não se pode descurar da transportação com maior rapidez dos populares que fizerem uso destes meios.
Tive o privilégio de estar numa das viagens inaugurais do CFL para Malanje, onde estiveram vários convidados. Esperávamos que fosse um momento de total alegria e uma viagem menos perturbada. Mas assim não foi devido ao tempo e as condições das próprias locomotivas que pareciam sair de um século anterior, quando hoje se fala em trem bala e metro super velozes.