Elas estão sempre à beira da estrada. E têm servido muitas de barómetro para se aferir o que tem sido produzido ao longo dos anos, em qualquer parte do país, isto é, de Cabinda ao Cunene. É vê-las expondo baldes de tomate, cebola, espigas de milho e outros produtos agrícolas, em pequenos mercados ao lado de comunas, vilas e até mesmo à porta de alguns municípios. São, na sua maioria, mulheres.
Algumas de tenra idade, que se dedicam à comercialização de cereais, frutícolas e hortícolas, e outras com idades mais avançadas, muitas das quais se estabelecem nos campos de produção a dezenas ou centenas de quilómetros, onde produzem aquilo que é dado a ver pelos viajantes e todos os que se fazem às estradas nacionais e até secundárias.
No último sábado, nas habituais paragens pelo Cuanza-Norte, um grupo de senhoras juntou- se rapidamente quando viu uma motorizada de três rodas a encostar num dos mercados ao longo da Estrada Nacional 230, a mesma que une esta província a Malanje, Lundas Norte e Sul, assim como o Moxico.
Era mais uma vítima dos assassinatos esquisitos que vão ceifando vidas de camponesas no Cuanza-Norte, uma situação que vai criando um medo generalizado no seio dos populares, sobretudo das camponesas. Diz-se que mais de 20 camponesas foram assassinadas nos últimos meses na referida província.
Trata-se de um facto que fez com que, nas duas últimas semanas, um parlamentar do maior partido da oposição tentasse se manifestar, mas as autoridades haviam dado garantias de que a questão das mortes, particularmente de senhoras, estava a ser investigada.
Há dias foi apresentado um indivíduo, com cerca de 40 anos, que foi detido por estar envolvido nas mortes que vão ocorrendo nas lavras, tendo este confessado que matara algumas delas por causa dos produtos destas existentes nas lavras, onde as terá encontrado e matado. O que se sabe é que este suspeito, que confessou a morte de algumas senhoras, encontra-se detido e sob os cuidados da Polícia Nacional.
Porém, o surgimento de mais uma morte nas mesmas condições que as demais veio reacender o medo que se generaliza no seio daqueles que, através da agricultura familiar, colocam alimentos nas mesas de muitos angolanos. Da curta conversa com algumas delas se percebe do temor.
Não espanta se muitas optarem por permanecer durante algum tempo nas suas modestas casas ou outras ainda que se farão deslocar para os campos sempre com os seus parceiros ou filhos mais velhos. E não espanta se alguns deles venham a optar por justiça privada se se virem ameaçados ou até mesmo em possíveis mal-entendidos.