Foi nas imediações do mercado da Madeira, nas proximidades do Calemba 2, que vi dois rapazes com ímanes amarrados com um fio a passarem pela areia para ver se conseguiam algum metal enterrado.
Nunca tinha visto algo do género. Por isso, enquanto aguentava o trânsito infernal, que na altura se fazia sentir por aquelas bandas, perguntei aos rapazes o que procuravam. Um deles, com sorriso nos lábios, diz que era para ver se tem moedas ou ferros enterrados.
Na altura, falando comigo mesmo, se pudesse escrever uma crónica, certamente que o título não fugiria muito a um ‘caça ferros’ ou ‘caça moedas’. Os últimos anos, com uma situação económica apertada em muitos lares, fizeram com que alguns se especializassem em diversas coisas, acreditando que no caso dos dois rapazes, com certeza, terão dias de sucesso em que nas grandes praças, paragens de táxi ou até mesmo nas proximidades de instituições públicas amplamente movimentadas acabam sempre por conseguir algumas moedas no chão.
A procura por resíduos ferrosos e até mesmo plásticos aumentou consideravelmente nos últimos tempos. O surgimento das famosas casas de pesagem, em determinados pontos da periferia, fez com que hoje quase nada seja considerado lixo, acabando estes meios por pararem nos postos dominados maioritariamente por cidadãos estrangeiros.
São estes que, posteriormente, enviam as sucatas para o exterior. Além daquilo que se pode encontrar nas lixeiras ou nos contentores de lixo, se é que ainda existam, parte destes meios que acabam por ser exportados como sucatas surge fruto da vandalização que se faz aos bens públicos, sobretudo os afectos ao sector da energia e água, escolas, hospitais e noutros domínios.
Não é em vão que se diz que a vandalização de bens públicos tem provocado prejuízos enormes ao Estado angolano. Muitos dos cidadãos que se queixam da falta de energia e água são os mesmos que na calada da noite derrubam postes para retirarem os fios, cantoneiras e outros materiais.
Depois de algumas suspensões e levantamentos, nos últimos dias, o Executivo voltou a travar a exportação de sucatas, um dos negócios que tem feito com que as infra-estruturas sejam vandalizadas para depois os materiais ferrosos e até plásticos acabem posteriormente embarcando para o exterior, onde são transformados, e regressam ao país como produtos acabados.
Pouco tempo depois de se ter aprovado uma norma que atribui penas pesadíssimas àqueles que vandalizarem os bens públicos, agora, com a proibição de exportação das sucatas, materiais ferrosos e até plásticos, espera-se que o drama que se vive reduza drasticamente nos próximos tempos. A ver vamos se os ladrões de costume se vão dedicar a uma actividade que poderá não ser rentável.