Durante a fase da revolução industrial surgiu um movimento de indivíduos, formados por aqueles que se viam ameaçados pelo surgimento das máquinas a vapor e outras, que se opunham à sua proliferação, amedrontados de que fosse retirar mercado àqueles que se mantinham féis aos métodos tradicionais.
Ao longo do tempo, apesar da diferença de séculos, vivendo nesta fase uma era digital, persistem entre nós aqueles que abominam qualquer alteração, ou seja, movimentos que se mostram favoráveis à organização, mesmo quando as próprias sociedades as precisam para garantir uma maior segurança pública, mobilidade e, acima de tudo, desenvolvimento.
A problemática levantada em torno da pretensa suspensão da circulação dos mototaxistas fez emergir, entre vários posicionamentos, pensamentos que se assemelham a dos movimentos anti-revolução industrial há alguns séculos, isso sem se descurar a necessidade ainda existente e premente da classe que se dizia temporariamente afastada das suas actividades.
O crescimento desordenado populacional da capital do país, num primeiro momento por conta da guerra civil que se abatia sobre o resto do país, e, posteriormente, por incapacidade administrativa do próprio Estado, fizeram com que determinadas artérias da própria capital não fossem infraestruturadas a ponto de puderem receber no futuro carreiras de transporte públicos ou privados.
Foram algumas destas lacunas, aliadas ao desemprego quase galopante que se vive, atirando inúmeros jovens ao seu próprio destino, que fez com que muitos destes encarassem a actividade de mototaxi como sendo a única via para sobreviver.
Só que, contrariamente ao que se deve observar em qualquer sociedade sã, muitos deles fazem-no sem qualquer habitação nem respeito pelas normas de trânsito, apesar da importância social que representam.
À medida que o tempo foi passando, o fenómeno dos mototaxistas aumentou significativamente e tornouse num problema que ficou incubado.
E ao que tudo indica muitos dos anteriores inquilinos do Governo Provincial de Luanda preferiram afastar-se dele devido às repercussões sócio-políticas que daí pudessem advir por causa do elevado número de usuários e beneficiários deste serviço hoje presente em quase todo o país.
E assim se foi vivendo. Assistindo-se às investidas de muitos destes jovens, agressões, violações constantes às normas de trânsito e influência nos números de acidentes de viação e vítimas mortais para as estatísticas que tornam as estradas a segunda causa de mortes no país.
Numa sociedade em que os níveis de empregabilidade fossem elevados, certamente que não se assistiria a muitos jovens sonhando entrar para esta actividade.
É o que se acredita. Porém, a inexistência destes postos de trabalho não servir de mote para que se olhe de forma impávida e serena para o que se passa com esta classe, onde a maioria não se importa sequer de andar em sentido contrário, em zonas proibidas e desconhece até mesmo as normas mais básicas de trânsito.
É claro que existirão sempre aqueles que se manifestarão contra as medidas que estão a ser tomadas. O que é normal, porque afinal estes movimentos existem há séculos.
O que não se pode perder de vista é que a balbúrdia que se assiste não pode ser transformada em normalidade, sob pena de se pensar que, afinal, o poder está na rua, o que não nos parece ser verdade.
E ainda bem que Manuel Homem, o governador de Luanda, vai demonstrando que goza deste poder para organizar a capital e repor a ordem que há muito se esperava.