Um dos momentos mais marcantes que vivemos, enquanto estudantes, terá sido naquela fase em que para se ter acesso às instituições do ensino médio éramos submetidos aos testes de acesso. Foi assim para quem se dirigia aos institutos médios, em qualquer província, independentemente da área de origem de que proviesse.
Para muitos originários da periferia de Luanda, onde não existiam, até ao início da década de 90, as instituições que lhes habilitasse a entrar num Instituto Médio de Economia de Luanda, o Instituto Médio Industrial de Luanda(IMIL) ou ainda a Escola Comercial, habilitar-se a um teste de admissão era um dos processos mais básicos.
Dirão alguns que se trata de saudosismo. Dos tempos em que quase tudo provinha do poder popular ou ainda das exigências muito marcantes de um sistema político transicional entre o partido único e o multipartidarismo, arrastando, este último, consigo a economia de mercado.
São poucos os que se poderiam vangloriar-se de ter entrado numa instituição do ensino médio pela porta do cavalo ou por intermédio de estruturas que podiam bafejar um restrito número de cidadãos ao acesso às listas de privilégios.
E eram tempos em que a qualidade não era sequer tão questionada como os momentos que vivemos. Muitos alunos do ensino médio, antes mesmo de terem tido acesso ao ensino universitário de que muitos hoje se vangloriam, acabavam por dirigir instituições e encabeçar processos tidos por muitos como melindrosos. Passaram-se os tempos, mudaram-se também as vontades, embora há alguns meses tivessem surgido informações sobre a feitura dos chamados exames nacionais em alguns níveis de ensino, porque hoje, por mais que se discorde, existirá uma espécie de bar aberto que vai retirando alguma seriedade ao acesso às instituições de ensino médio e, pior ainda, às próprias universidades. A forma como se entra – e pior ainda como se sai também- belisca sobremaneira a qualidade de quem acede a muitas instituições de ensino superior. Algo que desagrada quem lá está, os que ensinam e, principalmente, os que depois têm a árdua missão de contratar muitos destes quadros que, anualmente, são colocados no mercado quase que a granel.
Não há dúvidas de que existam pelo país instituições do ensino médio e superior, cujos critérios de admissibilidade são invejáveis. Porém, infelizmente, a grande maioria quase que menospreza estes processos que deveriam exigir alguma responsabilidade se se tiver em conta os prejuízos que podem provocar ao processo de formação, inclusive na selecção daqueles que devem merecer um lugar nas distintas universidades que existem no país. É vergonhoso que instituições que se devem bater pela lisura e transparência nos processos tentem contornar as exigências legais. Ontem, o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação (MESCTI) declarou nula e sem efeito legal a admissão dos estudantes de quatro institutos por deixarem de realizar as provas de acesso aos cursos superiores.
Reza o comunicado que estas instituições são os institutos superiores politécnicos do Kilamba, do Bita, Internacional de Angola e o Católico de Benguela, que agora terão que se defender.
A ser verdade, estas serão, se calhar, a ponta do Iceberg. Neste país que vê nascer com frequência instituições do ensino superior, é crível que existirão outras em que o acesso é mesmo por ligação directa.