Há muito que vem sendo propalado aos quatro cantos que o turismo é uma das portas em que se pode assentar a nossa tão esperada diversificação da economia.
E não há dúvidas de que, se bem explorados, os inúmeros pontos turísticos existentes nos poderiam dar alguma folga financeira, com a entrada de turistas e, consequentemente, das almejadas divisas de que carecemos.
Este fim-de-semana, armados em turista, acompanhado de um colega, decidimos descer pelos trilhos até ao rio depois da apetecível Quedas de Calandula.
Para mim, era a segunda vez que o fazia, para o meu companheiro de viagem, o Edno Pinto, era a primeira vez.
Ao lado tínhamos o guia, por sinal um jovem habitante do município de Calandula, mas que dizia, insistentemente ter nascido no Sambizanga, em Luanda.
Conhecedor da realidade da área, onde ainda se tem esperança que um dia venha a testemunhar o nascimento e afirmação desta grande potência, turística que são as quedas de Calandula, o nosso guia faz parte de um grupo de jovens que todos os dias socorrem quem lá vai.
E deseja conhecer, com alguma profundidade ou não, as suas belezas, assim como as áreas envolventes.
Desconhece-se qualquer vínculo destes com a administração municipal.
Aliás, das vezes em que foram questionados quase que se mantiveram em silêncio, escudando-se eles na autoridade de uma autoridade tradicional local que eles dizem realizar com regularidade algumas acções e oferendas na trilha de mais de um quilómetro até se descer ao rio.
O português, arranhado ou não que falamos e escrevemos, deu, inicialmente, para nos puderem identificar como angolanos.
E com isso não nos tentarem qualquer acto de charlatanice que, depois do que presenciamos,
acreditamos que muitos estrangeiros que lá vão possam estar a ser vítimas, a julgar pela veleidade com que se atribui preços, que não estão taxados oficialmente, assim como também parece não existir por parte da própria Administração de Calandula qualquer projecto no sentido de criar guias oficiais para aquele perímetro.
Sem dó nem piedade, os jovens cobram para se puder descer ao rio, auxiliando quem aí passa, os ‘modestos’ 25 mil kwanzas sem qualquer receio.
Pior do que isso, atribuem tal valor a uma orientação de um suposto soba local, o tal que eles dizem benzer regularmente o percurso para que nada aconteça a quem lá vá.
Quando nos foi apresentado este cenário, veio-me novamente à cabeça a reclamação de uma responsável do Turismo no Uíge, há pouco tempo neste jornal, que se queixava do excesso de rituais tradicionais em determinadas parcelas desta província, que faz com que muitos turistas se queixassem disso e dos pagamentos constantes que fazem para se ter acesso aos sítios.
Não sei se o soba de Calandula tenha mesmo dado orientação aos jovens guias que se fazem ao local para cobrarem os 25 mil kwanzas, um valor extremamente elevado para um percurso em que só os verdadeiros aventureiros se atrevem.
Porque, na verdade, mesmo depois de efectuado qualquer pagamento quem visita as quedas, deixe o carro estacionado, não lhe é proporcionado qualquer recibo que comprove a entidade que recebe os montantes.
Enquanto o Pólo Turístico de Calandula não sai completamente do papel, é possível, sim, com acções internas se organizar melhor e se tirar alguma rentabilidade para se ter acesso àquelas maravilhas e explorar as suas envolventes.
Não se pode deixar o poder no ar e se permitir que através do medo em nome de figuras tradicionaisse vá aos bolsos sem pudor daqueles que apenas querem testemunhar as belezas que a natureza proporcionou.