Lembro-me de um dia um grupo de amigos ter chegado à conclusão de que Angola poderia ser um dos países em África com mais oficiais generais. Não conhecendo as razões que o levaram a chegar a tal conclusão, limitei-me em acenar a cabeça com alguma perplexidade.
Ao longo dos anos, sobretudo após o fim do conflito armado, depois da morte de Jonas Savimbi em com- bate, nas matas do Moxico, em 2002, foi possível divisar cada vez mais o número de cidadãos que ostentavam as ambicionadas patentes vermelhas.
Com a criação das Forças Armadas, fruto dos Acor- dos de Paz de Bicesse, que ditaram a extinção das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), então braço armado da UNITA, o país testemunhou um crescimento exponencial de oficiais generais nas suas estruturas.
O que representava, como se poderia esperar, mais custos para a sustentação destes através de salários, regalias e outros privilégios. Além de ser o escalão mais alto que se pode atingir a nível das Forças Armadas Angolanas, durante muitos anos, possuir as patentes vermelhas no ombro foi, igualmente, um estado que representava não só poder de facto, imunidade, como também a possibilidade de se abrir muitas portas, sobretudo quando se está no activo.
Aliás, a história recente do país nos mostra que o acesso aos fundos do Estado – muitos dos quais de forma ínvia – fez com que muitos criassem fortunas descomunais e se apresentassem em clara vantagem em relação aos demais. É por isso que, durante muito tempo, falar-se em reforma no seio deste escalão castrense causava até calafrios para muitos.
Porque o day after de muitos deles era uma das questões a ter em conta, principalmente para aqueles que, com zelo, dedicação e sem colocar as mãos no pote público, sempre se dedicaram única e exclusivamente ao bem maior: proteger o país. Nos últimos dias, as Forças Armadas Angolanas têm sido alvo de uma revolução profunda.
Com a ascensão de novos oficiais generais e a reforma de outros depois de terem cumprido as missões em que estiveram envolvidos. Como se soe dizer, se é general a vida toda.
No activo ou na reforma. Porém, para muitos, a inquietação tem sido esta mesma, o que irão fazer depois de tantos anos de farda, muitos dos quais nas matas, casernas ou escritórios nas várias unidades que existem neste extenso país.
Felizmente, o Estado angolano avançou que está em curso projectos que visam conferir maior dignidade aos que vão saindo do activo, para que estes obtenham apoios suficientes para implementarem os seus projectos.
Mas não se trata de dar dinheiro e sim ‘facilidades’ para que obtenham financiamentos para os executarem.
Quem não o fizer com os cuidados que os negócios exigem, claramente que não se poderá queixar da oportunidade. Não mesmo