Muitas vezes ouvimos de figuras conhecidas e outras até desconheci- das mensagens de revolta quanto ao facto de se dar maior importância aos países colonizadores, relegando-se para um plano secundário ou terciário aqueles Estados que nos circundam no continente.
O factor língua, pelo menos a oficial, e supostos laços de consanguinidade entre colonizadores e colonizados são usados por uma determinada corrente para justificar a maior proximidade que existe entre muitos dos cidadãos das antigas colónias com os dos países então dominados durante a época de ocupação colonial.
É assim que ao longo dos vários anos, por exemplo, conseguimos perceber melhores as ruas de Lisboa, as suas gentes, oportunidades e desafios do que na maioria dos casos os becos, avenidas e misticismos de Kinshasa, Brazzaville, Lusaka, Windhoek e outros Estados africanos com os quais mantemos laços de consanguinidade, irmandade, passado comum e até mesmo mercados por explorar.
Durante largos anos, por incrível que pareça, os africanos, incluindo os seus próprios líderes, esqueceram-se do continente, privilegiando sobre- maneira as relações com os Estados ocidentais, esquecendo-se muitos deles que muitas das soluções para os problemas que atravessam podem estar aqui próximo.
É indiscutível a força que ainda jogam algumas destas potências, muitas das vezes até como intermediárias em acções ou benefícios de que os países em desenvolvimento ou mesmo subdesenvolvidos necessitam, mas ainda assim é importante que não se subestime as vantagens e importância que cada um deles pode jogar para o desenvolvimento de outros países ao nível do continente africano.
Esta semana, em Kinshasa, as delegações de Angola e da República Democrática do Congo reuniram-se numa cimeira económica para encontrar pontos comuns e oportunidades de negócios entre os dois países.
Apesar de repartirem uma extensa fronteira, com milhares de pessoas a atravessarem de um lado para outro dos dois países, Angola e a RDC quase que não exploram, como se deveria, essa vantagem que existe entre eles para que se melhore e se intensifique o comércio entre os dois Estados. Pouco se sabe – ou então não se anuncia – sobre grandes investimentos feitos por empresários angolanos na RDC e de congoleses em Angola, conhecendo-se somente aquele comércio de ‘muamba’ que ocorre com regularidade ao nível do sector informal.
Angola e Congo estão talhados a conviverem, as- sim como os seus cidadãos devido aos laços até sanguíneos que os unem. Há, entre os dois países, um mercado de 34 milhões de pessoas no nos- so país e outro com cerca de 100 milhões do lado congoleses desejosos em obter produtos de ambos os países. É importante não menosprezar este nicho que anda aqui pertinho e que pode alavancar a diversificação da economia, sobretudo nas regiões fronteiriças com a exportação de produtos para os vizinhos e de lá obter as divisas que tanto precisamos.