Ser nomeado a um alto cargo público, principalmente no Executivo, sempre foi motivo de regozijo no país, algumas vezes até de forma extremamente efusiva. Além dos nomeados, vezes há em que os próprios familiares do nomeado recebem a informação com mais agressividade, porque, hipoteticamente, para muitos terá chegado a hora deles também.
Só por isso, verdade seja dita, quando alguns destes nomeados são afastados dos cargos, quase que não deixam saudades. Os subordinados celebram a exoneração, porque, mais do que servirem, estes servem-se do que era suposto ser de todos.
Nos últimos cinco dias, mais exonerações ocorreram no Executivo, assim como nalgumas estruturas castrenses e da Polícia Nacional, com realce para o Governo Provincial de Luanda e o Ministério do Interior.
E várias foram as reacções às saídas de Manuel Homem, que sai do GPL para o Interior, e do então ministro Eugênio Laborinho, cujo destino ainda é desconhecido.
No Ministério do Interior, além do ex-ministro, foram também exonerados os dois secretários de Estado, assim como os directores do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) e Serviço de Investigação Criminal (SIC).
À semelhança de outras nomeações e exonerações, algumas terão agradado alguns e outras não. Possa ser que ocorram aos quatro cantos, mas são poucas as vezes em que os funcionários em uníssono rendem tributos aos exonerados, como pudemos observar em dois casos esta semana
Foi bom ver no SME os funcionários, entre oficiais e agentes, mostrarem reconhecimento pelo que foi feito nos últimos tempos pelo então director Jô Costa.
É um sinal inequívoco de que, apesar da saída do mesmo, a sua imagem não está maculada, porque o tributo demonstra claramente que a sua passagem terá tido efeitos positivos na organização.
Do outro lado, no Governo Provincial de Luanda, é indiscutível o papel desempenhado nos últimos dois anos pelo então governador Manuel Homem. Percorreu os municípios, pernoitando em alguns deles, levou meios e criou uma aproximação com os cidadãos, recebendo-os, inclusive, na sede que dirigia, estabelecendo uma parceria que se espera que o seu sucessor, Luís Nunes, consiga manter.
Porém, o mais marcante foi a carta que os funcionários dos cemitérios e outros serviços fizeram para se despedir de Manuel Homem.
Durante décadas, os funcionários dos cemitérios da capital eram vistos como extraterrestres, sendo-lhes negado até alguns benefícios básicos para a actividade que realizam na hora em que nos despedimos de todos nesta terra.
Trata-se, na verdade, de uma acção do então governador que pouco se soube. E o relato vindo na primeira pessoa, numa despedida em que estavam os trabalhadores dos cemitérios de Camama, Alto das Cruzes, Mulemba, Santa Ana, Viana, demonstra a dimensão de quem sai e a repercussão do que terá sido feito no seio dos próprios.
Por mais que existam adversidades, as lideranças devem impactar positivamente nos liderados. Só assim elas marcam significativamente e os beneficiados nunca se esquecerão delas. É assim que se escreve a história daqueles que procuram servir e não se servirem do que é suposto ser de todos os angolanos.