Uma visita de trabalho do então Presidente José Eduardo dos Santos ao projecto quase acabado foi o mote para que se conhecesse, finalmente, o conglomerado de edifícios que veio a se transformar na Centralidade do Kilamba, desejado por muito anos depois, mas habitado por um grupo restrito de cidadãos que tiveram este privilégio. Distante do que acontecia em muitos bairros de Luanda, onde o lixo, a desorganização, insegurança, falta de água e energia reinavam, nesta nova cidade houve quem tivesse encontrado um mini paraíso na capital. Com ruas limpas, iluminadas, paragens para autocarros modernas, água, luz, passeios organizados e uma urbanização sem os conhecidos ‘puxadinhos’ que emergiram e ajudaram a estragar a imagens de inúmeros bairros.
E num ápice, a centralidade tornou-se na ex-libris do país. Qualquer dirigente estrangeiro, independentemente da função que exercesse, quando pisasse o solo angolano era logo convidado a visitar a centralidade do Kilamba, podendo deste modo apreciar ‘in loco’ aquilo que era o esforço do Estado angolano para proporcionar aos seus cidadãos uma melhor qualidade de vida. Isto é, distante da realidade que se vive ainda na maioria dos bairros periféricos do país. Mas, aos poucos, a chama que se evidenciava outrora, daquele Kilamba organizado vai dando espaço para a instalação de um futuro gueto em que a desorganização e as construções acabarão por reverter a imagem inicial que se esperava que fosse preservados, uma vez que não parece ser sina dos angolanos viverem somente em áreas em que impere a balbúrdia. Construído com espaços para lojas, restaurantes e outros estabelecimentos, uma sorte que não coube a outras centralidades no país, incluindo algumas ainda em construção, aos poucos os espaços ao redor do Kilamba vão sendo ocupados e obras longe da maquete original vão surgindo para dar lugar a novas infraestruturas comerciais, deformando a imagem original.
Com uma imensidão de terras ainda desocupadas, algumas das quais colocadas há pouco tempo à disposição dos interessados pela Empresa de Gestão de Terrenos Infra-estruturados (EGTEI), ainda assim muitos empresários ou indivíduos com algum poder político vão construindo ao redor dos prédios e noutros pontos onde se julgava impensável surgirem estruturas que hoje crescem como cogumelos.
Sem quaisquer receios, vê-se em alguns pontos a edificação destas novas obras, muitas das quais cobertas com chapas e outras que já deram lugar a lojas de venda de materiais de construção e outros apetrechos para o lar e não só. Pena é que a estes parece que a administração local não se lembre que existam nem que nunca constaram da planta arquitectónica da cidade, ainda disponível algures.
A disponibilidade dos cidadãos para o caos parece ser já algo intrínseco aos angolanos. Conviver com o certo e preservá-lo insiste em não ser nossa divisa. E tal como se acabou com alguns bairros que se esperavam ainda nobres na capital do país e noutras províncias, a centralidade do Kilamba parece estar a entrar para um processo acelerado de guetização que não se quer travar. Diriam os outros que até parece feitiço. Só assim se concebe que se deixe empresários ou pretensos construírem ao redor dos prédios quando ainda existem nas cercanias vastos hectares em que poderia erguer estes imóveis para as suas actividades comerciais. E a administração local parece que não vê.