Dois anos depois de ter vencido as eleições gerais de 2022, derrotando o seu principal adversário, os ‘camaradas’ realizam hoje o seu maior acto político desde então.
Vão estar na mesma sala o Presidente deste partido, João Lourenço, então cabeça de lista, e os primeiros-secretários dos Comités de Acção Política (CAP), a principal estrutura de base da organização.
Numa altura em que o partido se prepara para realizar o seu congresso extraordinário em Dezembro próximo, isto é, daqui a quatro meses, a quem olhe para o que vai acontecer no Centro de Conferências de Belas, em Luanda, como uma antecâmara do que vai ocorrer no evento magno.
Com uma forte pressão social, derivado sobretudo da alta dos preços da cesta básica, uma inflação ainda dolorosa, e níveis de desemprego acentuados, provenientes do tempo da outra senhora, as expectativas em relação ao que acontecerá no frente-a-frente com o líder da organização são enormes.
Afinal, embora se esteja no topo de uma hierarquia política poderosa, ouvir da fonte, ou seja, das bases, às vezes, acaba por ser um exercício melhor em relação aos relatórios que são encaminhados por aqueles que hoje lideram as estruturas dos ‘camaradas’ nos diversos segmentos.
Numa altura em que se balanceia os resultados dos dois anos deste segundo mandato, aos responsáveis compete também transmitir ao Presidente do partido no poder aquilo que são as percepções dos militantes, cidadãos e, sobretudo, os níveis de desgaste e descontentamentos existentes.
Muitas das vezes, fruto das más políticas e escolhas daqueles que são os representantes do líder em várias circunscrições. Cerca de meio século depois de ter chegado ao poder, é normal que existam descontentes.
Aliás, é próprio da natureza humana, até mesmo de quem se sinta insatisfeito, por exemplo, ao ver a acontecer o que não pretendia que ocorresse. Porém, isso já é diferente da má adopção de determinadas políticas ou mesmo o comportamento quase que indecoroso de quem se supunha ver a servir unicamente o Estado, como muitos dirigentes que chegaram aos vários cargos pelas mãos do próprio MPLA.
Apesar das críticas, sobretudo as provenientes dos seus principais adversários políticos, são evidentes alguns avanços nos sectores da saúde, agricultura, aumento do número de escolas e novas infra-estruturas. Mas, ainda assim, o povo quer sempre mais.
E acredita-se que o próprio MPLA esteja ciente disso caso pretenda permanecer mais anos à frente dos destinos do país, cujos eleitores lhe conferiram mais um mandato recentemente.
Agora, resta saber também se os próprios representantes dos CAP’s terão levado as principais preocupações dos seus sectores, militantes, assim como de todos os cidadãos que habitam ou trabalham nas áreas de onde provêm.
É que muito tempo relegados à atenção dos primeiros secretários municipais ou provinciais, o encontro com o Presidente João Lourenço é uma oportunidade de ouro. E os que têm algumas questões encravadas, por nunca terem ultrapassado as esferas municipais e provinciais, não quererão perder o frente-a-frente de hoje.