Fossem vivos os criadores da Organização de Unidade Africana, teriam ontem um motivo de sobra para se sentirem rigozijados com os acordos celebrados entre Angola e a Zâmbia, no âmbito da visita que o Presidente deste último país realiza no nosso território.
Hoje, de acordo com a agenda do seu programa de visita, o líder zambiano, Hakainde Hichilema, deverá visitar a província de Benguela. O Porto local e os caminhos-de-ferro há muito que estiveram na calha deste país irmão da África Austral para o escoamento dos produtos que enviam para o exterior, sobretudo o cobre de que são uma das principais causas potenciais mundiais. Nos últimos tempos, com a construção da refinaria do Lobito, que deverá estar concluída nos próximos anos, as autoridades zambianas viram com bons olhos esta iniciativa e não esconderam o desejo de que o mesmo venha a beneficiar o seu país.
Tal como no primeiro dia em que chegou a Angola, descrevendo como sua casa e um país irmão, o Presidente da Zâmbia não teve dúvidas em dizer que tem sido um absurdo fazer negócios com países que estão longe da nossa esfera, quando aqui ao lado sempre existiram as mesmas oportunidades.
Hakainde Hichilema defendeu a construção e reconheceu a importância que tal projecto tem para o seu país. Com certeza, quando hoje cruzar as terras de Ombaka e tiver acesso ao que já está feito, o Presidente do país vizinho verá solução, assim como a redução de preços e de outras obrigações a que têm sido submetidos para conseguir combustível e fornecer energia aos seus concidãos.
Não foi em vão que João Lourenço disse alto e em bom tom que existiam coisas absurdas na relação entre os dois países. E um deles é este mesmo: o facto de a Zâmbia, por exemplo, adquirir até petróleo em países do médio oriente, quando tem à porta um dos maiores produtores do continente africano com quem sempre conviveu ao mais alto nível.
O mesmo equivale para Angola e os angolanos, porque a Zâmbia também dispõe de muitos serviços e produtos de que precisamos. É que muitas das coisas que o nosso país precisa e importa da Europa e América, a Zâmbia diz produzir e aguarda somente que os empresários e outros interessados se desloquem ao país para apurarem a veracidade e conferirem também a qualidade.
É por estas e outras que os dois chefes de Estado, João Lourenço e Hakainde Hichilema, acreditam que esta relação de absurdos tem que ter um fim. Isto é, melhorando as relações políticas e comerciais, podendo cada um dos países aproveitar as vantagens que tem em relação ao outro no bom sentido.
Os próximos passos que deverão ser tomados serão bem-vindos para os dois países. Porém, já se sabe que poderão também encontrar entraves naqueles que sustentam os famosos lobbies da importação e não vivem sem os saudosismos coloniais. São estes, visíveis e sedentos de lucros que acabam por minar as acções mais fáceis e que representam uma mais-vália para o cidadão comum.