A cada ano que passa, confesso, a celebração do Natal vai se tornando diferente. Não que tenha deixado de representar o consagrado Dia da Família, para os cristãos, sobretudo, mas porque as contingências da vida adulta – e um dia anciã – fazem com que nos preocupemos muito com as festividades, uma vez que, depois de toda a celebração, continuarão os problemas que nos apoquentam.
Mas, como sempre, Natal ainda é mesmo Natal, apesar de tudo. E como gostaria de recuar no tempo para aqueles momentos bons em que ainda mais novos, num dia como este, trajávamos religiosa- mente algo novo, percorrer as casas de parentes e até amigos da família à busca da famosa ‘boas festas’.
Era bater de porta em porta, sem desprimor, ser atendido e, à medida que se passava, também se poderia ter um copo de sumo, uma gasosa, uma fatia de bolo, ou uma outra comida confeccionada a preceito pelos anfitriões que nos recebiam com tenra idade. O tempo, ao que parece, vai mesmo se passando. Há quem diga que seja somente as contigências da vida que nos vão afastando das grandes celebrações, porque outrora, mesmo depenados, ainda era possível divisar a alegria.
Não só dos pequenos, mas também dos progenitores que, logo no início da manhã, se reuniam para celebrar a preceito, mesmo que isso não significasse ver o bacalhau a milhas. Dizem alguns que Natal que é Natal tem cheiro. Quem andou pelos musseques de Luanda, ou até mesmo nas zonas urbanas, sabe que, num dia como este, por mais animosidade que se tivesse, os bairros tinham um cheiro típico.
Era o cheio das confeiteiras, perfumando ruas, ruelas e becos com o que de melhor se poderia tirar dos for- nos, não importando se as mãos de quem estives- se no comando da orquestra fosse tão aprumada. Natal que é Natal, dizem outros, cheirava a azeite puro.
Daqueles que, mesmo a uma dezena de metros ou mais, podiam despertar no transeunte – ou o vizinho – a sensação de que do outro lado se estava a degustar um bom cozido, por exemplo, mesmo que não fosse a opção de um considerável número de angolanos que sempre apostaram noutras iguarias da época. Mas é Natal.
E sempre será Na- tal. Mesmo que os tempos não sejam os melhores, a sagacidade dos angolanos permite sempre reinventar-se para alguns destes momentos em que, embora tomados pela nostalgia de outros momentos, ainda assim é possível continuar a viver, acre- ditando sempre em dias melhores.
E hoje, apesar de tudo, famílias inteiras reuniram- se à mesma mesa, cada um com as condições que o momento poderá proporcionar, para celebrar a união e a cordialidade. Seria bom que fosse como noutros tempos, como muitos dos quais vivemos quando mais novos, permitindo sonhar, verdadeiramente, com um amanhã ainda melhor.
Temos fé que 2025 será bem melhor. Talvez com a pompa e a circunstância a que nos habituamos outrora. Quando o Natal era mesmo Natal e poderia ser identificado através de sinais à distância, com ruas engalanadas, cheiros não nauseabundos e uma disposição festiva fora do comum que se dizia própria dos angolanos. Por isso, cada um como puder, que não deixe de viver e celebrar mais este Natal.