Fez eco há poucos meses o caso de uma professora portuguesa, que por sinal não tinha qualificações formais para o efeito, e que, durante mais de 20 anos, deu aulas e recebeu os referidos ordenados.
Depois de descoberta, houve algumas tentativas do Estado luso reaver todo o dinheiro auferido. Desconheço se o processo já tenha terminado.
Nem tão pouco se se conseguiu receber algum dinheiro, mas a verdade é que terão sido despendido ao longo de anos vários milhões de euros só neste caso.
Adivinhando-se que existam outros casos, mesmo que seja uma dezena, o prejuízo é ainda maior. São poucos os casos de falsos professores.
Mas todos os dias, com algumas excepções, vimos entre nós informações sobre médicos, enfermeiros, polícias e outros profissionais detidos por falsa qualidade, alguns deles logo nas primeiras tentativas de intromissão em instituições públicas, sobretudo. Mas existirão outros espalhados. Uns conhecidos e outros nem por isso.
Os famosos fantasmas que desde sempre circularam pelas nossas instituições públicas ainda existirão, principalmente nas áreas em que a bancarização nunca chega, apesar do desenvolvimento tecnológico que se observa.
Quem diria, por exemplo, que, passados mais de 30 anos desde o fim da guerra no país, ainda existissem tantos ‘fantasmas vivos’ que, até o presente ano, recebiam dinheiro como antigos combatentes, veteranos de guerra ou viúvas destes.
Por incrível que pareça, quando no ano passado se iniciou o processo de cadastramento e prova de vida dos integrantes desta franja de cidadãos, existiam mais de 150 mil indivíduos que beneficiavam de subsídios do estado como antigos combatentes e veteranos da pátria.
Um número que obriga o Estado a despender todos os meses, infalivelmente, centenas de milhões de kwanzas para acudir as várias necessidades que possuem, depois de terem servido o país.
Como comprovou esta semana um alto responsável do Ministério da Defesa e Veteranos da Pátria, o processo de prova de vida acabou por comprovar que somente cerca de 70 mil deste leque de mais de 100 mil estavam habilitados a ter acesso aos referidos subsídios.
Nota-se hoje, depois da depuração, que existiam provavelmente mais fantasmas do que os verdadeiros beneficiários, uma situação que exigiria, em circunstâncias normais, um maior aprofundamento para se averiguar se não se tratou de uma acção dolosa, visando subtrair fundos públicos.
É incalculável o prejuízo. Gastaram-se fortunas que dariam para a implementação de outros projectos sociais que iriam beneficiar não só os antigos combatentes e seus familiares, assim como outros cidadãos angolanos. Porém, é possível que estes milhões de kwanzas tenham parado nos bolsos de meia dúzia de indivíduos sedentos em detrimento de uma maioria que necessita deles.