São poucos os contemporâneos que não se tenham saboreado de programas como as ‘Experiências do Samy’, exibido pela Televisão Pública de Angola na década de 90. Cada engenhoca, que se consubstanciavam em experiências no campo da física e química, sobretudo, deixa-nos boquiabertos, ansiosos pelo que viria ocorrer na tarde do dia seguinte no mesmo espaço.
Esta semana, no espaço Por Angola, da mesma cadeia televisiva, chegou-nos a informação de um jovem no Lubango, hoje apelidado de cientista, por se ter especializado em física ou química, o que lhe permite desenvolver algumas soluções tecnológicas para a comunidade em que está inserido. Gostaria de ver/ouvir mais casos do género.
Do mesmo modo que esperava vê-los a calcorrearem o solo angolano, de Norte a Sul, do litoral ao Luau, transmitindo os seus conhecimentos. E com isso acabarem reconhecidos à semelhança de muitos que se tornaram até famosos por não terem feito absolutamente nada, ou seja, algo que lhes catapultasse para as posições em que são quase idolatrados.
Há dias, pus-me a analisar o que terão feito muitos dos jovens, hoje tidos como referências por muitos, com milhares de seguidores nas redes sociais e até utilizados por diversas organizações locais, incluindo políticas, para vários fins.
Ao invés de revelar estes heróis anónimos, que nesta fase do campeonato em que a taxa de desemprego é alarmante, o país vai propiciando o surgimento de outros heróis, noutros campos, que quase se vão tornando mártires numa zona em que os bons exemplos escasseiam.
Distante de quem, por exemplo, lidere organizações que exerçam acções que impactam directamente na vida dos angolanos, os heróis de muitos são aqueles que se propõem a dar o corpo ao manifesto, defendendo valores que os próprios, posteriormente, acabam por abdicar.
Os heróis de hoje não precisam de se destacar em áreas que possam influenciar grandemente os cidadãos ou então realizar uma proeza que mereça tal distinção. Os nossos heróis ou referências, como se soe dizer, igualmente, acabam por ser aqueles que mesmo impactando de forma negativa, ainda assim, merecem mais atenção. Entre estes, há ainda os que acabam por se tornar mártires.
Uns por omissão ou até mesmo acção das próprias autoridades, que os traz à ribalta de forma indirecta quando nem sequer é necessário, porque as suas acções até poderiam passar despercebidas na própria sociedade.
Um exercício simples sobre os nomes ou figuras, que nos últimos tempos têm estado na berlinda, leva- nos a concluir que só lá chegaram porque quem deveria estar calado não o fez e quem deveria agir em excessos, às vezes, habituais não tenha conseguido dosear para que tudo se passasse nos marcos da normalidade.
E assim, aos poucos, vamos construindo uma sociedade em que imperam os mártires de circunstância, enquanto os bons exemplos adormecem nas prateleiras à espera que um dia alguém se lembre deles, nem que seja a partir de uma das experiências do Samy.