Num ápice, há uma sensação em muitos cidadãos de que parece que tudo esteja mal. A permanente divulgação de escândalos financeiros e actos de corrupção fazem com que, em certos círculos, se comece a esmorecer, havendo alguns mais inconformados que até pretendem colocar em causa os avanços que se conseguiram neste segmento.
Antes do fim do conflito armado, Angola era apontada, entre muitos, como um dos países mais corruptos do mundo. Quase todas as estatísticas colocavam o país na cauda, o que fazia com que constasse dos relatórios das organizações internacionais como um local inadequado para investir. Findo o conflito armado, alcançou-se a paz.
E acredita-se que tenha sido durante este período que o país tenha observado uma das fases mais duras de pilhagem dos seus recursos, o que possibilitou o surgimento de uma classe de novos ricos. Falou-se numa espécie de acumulação primitiva de capital.
Na verdade, enquanto acima parecia haver uma distribuição das riquezas nos sectores-chave, na parte mais baixa não só crescia o desejo de muitos também lá chegarem, como igualmente se foram apropriando de forma rasteira de expedientes que lhes pudessem permitir ter acesso a algum.
Seria de todo ingênuo acreditar que um dia nos veremos afastados da corrupção, seja ela a grande ou aquela pequena, durante muitos anos menosprezada, mas que acaba por se constituir num mal maior, com sérios prejuízos para a vida de cada angolano.
Daquele que precisa de um documento, ter acesso a um escritório ou até mesmo um simples serviço. Embora o vício persista, a cultura da denúncia e, acredito, também a presença dos órgãos inspectivos farão com que muitos destes casos de desvio, sobrefacturação e furto venham à luz do dia. Os dois principais casos da actualidade são provas disso.
Apesar de toda a pompa, os responsáveis do Ministério das Finanças vão defendendo que foram eles que entregaram os técnicos da AGT envolvidos no descaminho de 7 mil milhões de kwanzas.
De igual modo, foi o Tribunal de Contas que detectou o buraco de mais de 20 milhões de dólares no Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudos. Não obstante os vícios ainda existentes, alguns dos quais gostaríamos de ver sanados, acabam por ser as próprias autoridades do Estado a trazer à luz do dia aqueles casos que acabam por nos deixar escandalizados e com a sensação de que está tudo perdido.
Acredito, sim, que o aumento destas informações, a detenção dos implicados e a condenação poderão funcionar como factor de retração de alguns, embora se saiba que existem muitos cujos vícios estão espalhados no cérebro feito um cancro em fase avançada.