É uma cartada de mestre. Uma verdadeira pedrada no charco do Governo Provincial de Luanda se se tiver em conta que irá, de facto, aliviar ou até mesmo sanar um dos maiores problemas que se tem observado nas principais cidades do país, sobretudo aí naqueles locais em que a circulação de pessoas e bens tem sido garantida pelos mototoxistas e o serviço de táxi em turismos.
Ao longo dos últimos 10 ou 15 anos, além das queixas apresentadas pelos responsáveis das principais associações de taxistas, em Luanda, com a falta de paragens e uma carteira profissional entre as reclamações, as demais provinham da associação de mototaxistas e dos seus ‘associados’, embora se acredite que muitos dos que hoje exercem tal actividade nem sequer conhecem o presidente da organização e muito menos as suas instalações.
O elevado índice de desemprego, que nos últimos meses vai amainando de acordo com as projecções que vão sendo divulgadas, empurrou muitos dos jovens ao serviço de mototaxi. Sem experiência, nem conhecimentos das regras de trânsito, muitos deles se fazem à estrada depois de adquirir ou lhes ser colocada à disposição uma motorizada por um terceiro.
Antes, por incrível que pareça, as motorizadas, vulgo kupapatas, estavam apenas radicadas nos bairros periféricos da capital.Passado pouco tempo, como se de um enxame se tratasse, é possível vê-las em todas as zonas das cidades capitais das províncias, incluindo naqueles pontos que se viam como inacessíveis.
É possível vê-los, os mototaxistas, no centro da Cidade, em bairros tradicionais de Luanda, em pleno Talatona, e até mesmo nos arredores dos principais órgãos de soberania. Mas, quando interpelados, dificilmente muitos deles conseguem apresentar o documento que lhes habilita a exercer tal actividade, um seguro e muito menos uma carteira que lhes habilita a conduzir o motociclo.
A falta de habilitação e de documentos para muitos deles nunca se constituiu num factor impeditivo. Em nome do desemprego e da lei da sobrevivência muitos deles exercem a actividade, mas acaba sempre por se tornar num íman para uma relação tumultuosa com os agentes da Polícia que exercem a fiscalização do trânsito na capital.
O anúncio da realização de uma campanha, até ao próximo dia 17 de Maio, sob a égide do Governo Provincial de Luanda, poderá, nos próximos tempos, erradicar esse problema em termos legais, caso exista uma adesão massiva destes jovens, incrementando para as autoridades as receitas dos impostos.
Todavia, mesmo legalizados, restará uma outra parte do problema para ser enfrentado, o que não deixará de criar clivagens entre os milhares de jovens que exercem a actividade de mototáxi e os polícias: o desconhecimento das regras de trânsito e a forma quase anárquica como circulam nas estradas do país.
Julgamos ser imperioso que as autoridades de Lu- anda e de outras províncias do país pudessem também, com as associações locais de mototaxistas, criar um programa de formação ou de esclarecimentos sobre as regras de trânsito ou até mesmo para que muitos deles conseguissem habilitação para o efeito. Caso contrário, não nos livraremos facilmente da baderna nem das consequências desastrosas que vão ocorrendo com um elevado número de vítimas mortais.