A imagem de uma criança bebendo água numa cacimba juntamente com um boi rendeu um prémio fotográfico a um colega de trabalho em 2013. Foi um momento de alegria para o fotógrafo, calejado e um dos mais brilhantes que conheço. Ao mesmo tempo era igualmente um período de tristeza por se ter testemunhado em pleno século XXI um dos mais dramáticos episódios que se viveu com a seca no Sul de Angola, particularmente na província do Cunene.
Eram sombrias as estórias que nos chegavam. A deslocação de milhares de cidadãos à procura de água para beber, a escassez de alimentos devido à seca e a morte do gado, tido como uma das maiores riquezas de determinados povos do Sul de Angola. Recorrentemente, o cenário era o mesmo. Quando se aproximava o período seco, os po- pulares procuravam novos poisos. Os pastores percorreriam dezenas ou até mesmo centenas de quilómetros à procura de água. Muitos dos animais acabavam por morrer durante a viagem.
O mesmo acontecia com as pessoas que embarcavam em busca de mantimentos naqueles anos de angústia em que a esperança era praticamente moribunda. Há poucos meses, quando o Jaime Taibo, agora radicado em Portugal, visitou o projecto do Cafu, no Cunene, ouviu histórias que não se deseja que voltem a acontecer em nenhum país do mundo. Nem naqueles que possam ter problemas com o nosso ou onde residam cidadãos com os quais temos conflitos. Há o caso de uma mãe que perdeu três filhos em virtude da fome no Cunene e do pastor que saiu com mais de 50 cabeças de gado à procura de água, mas acabou por regressar ao seu habitat com menos de 10.
Hoje, a senhora ainda chora pelos filhos. Já tem condições para sustentar os que ficaram graças à agricultura que vai desenvolvendo ao longo do canal do Cafu. O mesmo disse o mais velho que por estes dias vai procurando aumentar as poucas cabeças porque já tem água em abundância e está convencido de que nunca mais venha a faltar naquelas paragens. Um comunicado do Ministério da Energia e Águas, publicado ontem, dizia, logo no título, que ‘a mitigação dos problemas da seca na região Sul do país já é uma realidade’.
É a mais pura verdade. E não como se escamotear, embora possam existir ainda pessoas que precisem do precioso líquido. E quando entrarem em funcionamento os projectos em curso nos municípios do Cuvelai, Cuanhama, Cahama e Curoca, cerca de meio milhão de pessoas serão beneficiadas. E não há como não louvar esta empreitada levada em curso pelo Executivo do Presidente João Lourenço.