A guerra na Ucrânia fraccionou o mundo. Hoje não há dúvidas em relação a isso, sendo notório os pólos constituídos.
Há de um lado os Estados que manifesta- mente se colocaram à disposição do Ocidente, com os Estados Unidos à cabeça, condenando tudo o que a Rússia foi fazendo até ao momento, apesar deste país dizer, firmemente, que está a defender o controlo das suas fronteiras.
Do outro lado, como vimos até numa das sessões de votação na Assembleia das Nações Unidas, estão aqueles que se posicionaram ao lado dos russos. São maioritariamente estados em desenvolvimento e outros que também procuram afirmação no concerto das Nações. Entre estes estão alguns africanos, quase todos eles gratos à Rússia por causa dos apoios concedidos ao longo da luta de libertação nacional que culminou com a independência dos seus países nas décadas de 60, 70 e até no início do presente século.
Nos últimos tempos, o que se procura entender é que papel estará a jogar Angola neste conflito e as razões do seu posicionamento. Poucos são os países no mundo que conheceram uma guerra tão duradoura como o nosso país e as tentativas de desestruturação do seu território até mesmo por grupos apoiados pelas principais potências militares do mundo. Em todos os casos, Angola resistiu, o que lhe permite hoje ter uma posição de firmeza contra atitudes do gênero nesta fase do mundo, independentemente de quem sejam os contendores. E mesmo consciente da importância que a Rússia tem para o país, onde despendeu recursos humanos, materiais e financeiros ao longo dos momentos mais conturbados da nossa vida política, esta tem sido, em princípio, a tese levantada pelas autoridades angolanas.
Daí a insistência de um cessar-fogo no conflito, o que não está a ser possível porque as partes se mostram mais disponíveis para o aumentar da escalada militar com a entrega de mais armas. Agora se fala de Leopards, não tardará que se incluam outros felinos nesta vã tentativa de que exista, a breve trecho, um vencedor e um vencido para se chegar à mesa das negociações.
Durante a sua visita de trabalho a Angola, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse que nada influenciará nem desestabilizará as boas relações que o seu país possui com os angolanos. E não pestanejou sequer em apontar o dedo ao principal adversário do seu país geopolíticamente: os Estados Unidos da América.
Ainda assim, Angola preferiu manter a postura que já havia anunciado há poucos meses: a necessidade de um verdadeiro cessar-fogo.
É que , apesar das boas relações existentes entre russos e angolanos, alicerçados ao longo de várias décadas, o Estado angolano prefere vê-lo numa mesa em que não haja mísseis, mas sim vontade de negociar com os seus vizinhos da Ucrânia.
E o comunica- do do Ministério das Relações Exteriores de Angola não poderia ter sido melhor, uma vez que não se pode menosprezar de modo nemhum o facto de também possuirmos relações com os ucranianos. E defender a paz, através do diálogo, é o melhor passo para se ultrapassar o conflito que já se arrasta há algum tempo, com um elevado número de vítimas mortais e enormes prejuízos económicos e sociais para o próprio mundo.