Quando foi necessário, numa fase em que o desenlace do conflito armado era pratica- mente imprevisível, foi preciso que se estendesse o mesmo até ao Congo para que num determinado momento se pudesse vislumbrar uma luz no fundo do túnel para se alcançar a paz.
Cortadas algumas linhas de fornecimento de material de guerra, segundo estudiosos militares, as forças governamentais conseguiram tirar vantagens que a dado momento serviu para desequilibrar as acções nas matas. Isso numa fase em que irmãos desavindos, uns do lado do Governo de Angola e outros das extintas FALA, não tinham alcançado os entendimentos que culminaram com a assinatura dos acordos em Abril de 2002.
A República Democrática do Congo (RDC) sempre esteve aqui ao lado. Nem sempre se pode escolher os vizinhos, mesmo que pretendêssemos, mas há mui- to que tem sido uma espécie de placa também para os sarilhos que possam ocorrer em Angola.
Aliás, muitos deles veem desde a época da luta de libertação, depois nos conflitos pós-independência e agora em época de paz, caso Angola não ajude também a sanar os inúmeros conflitos étnicos e políticos que ocorrem no interior deste que é um dos mais ex- tensos e ricos países do continente africano.
Estaremos sempre ligados ao Congo. Os bons momentos que se viverem em terras congolesas representarão para os angolanos igualmente momentos de prosperidade e estabilidade, ao passo que o contrário poderá se repercutir negativamente ao nosso país.
Até hoje, passados alguns anos, ainda é visível no Lovua, na Lunda-Norte, um acampamento em que estão milhares de cidadãos congoleses que entraram devido aos desentendimentos entre grupos militares no país de origem destes cidadãos.
A extensa fronteira com a RDC fez de Angola o escape para os inúmeros problemas que vivem. Daí a necessidade de não se olhar para todos os dilemas internos daquele extenso país vizinho como se fossem apenas deles, quando na realidade as consequências acabam por ultrapassar as delimitações impostas depois da conferência de Berlim.
O envolvimento de Angola na busca da paz entre os congoleses visa também salvaguardar eventuais consequências que nos possam sobrar das constantes escaramuças que se vive na RDC. Daí o envolvimento pessoal do Presidente da República, João Lourenço, e agora a partida de mais um contingente militar para a ajudar a pacificar os nossos vizinhos.
Hoje, 17 de Março, os parlamentares deverão aprovar na generalidade o envio deste contingente que “será integrado por um batalhão das FAA e respectivos componentes, bem como meios financeiros avaliados em 11 mil milhões, 266 milhões e 872 mil kwanzas, que deverão ser remanejados no quadro do orçamento do sector de Defesa e Segurança”.
Como tudo, haverá, com certeza, quem se sinta contra uma participação de militares angolanos, que vão participar apenas nas operações de manutenção da paz, com o objectivo de assegurar o pro- cesso de acantonamento das forças militares do M23. Mas não se pode perder de vista que qualquer conflito naquele território, os espirros tendem a chegar aqui o mais rápido possível. E com todas as consequências. Não é em vão que estamos sempre com as barbas de molho.