Fosse a Lei de Talião, com a máxima ‘dente por dente, olho por olho’, apanágio de todos, provavelmente não existiriam muitos para contar as histórias que vão acontecendo no mundo. Há muito – e ainda bem – que a justiça privada foi colocada às boxes.
Deixando ao Estado o monopólio desta através dos órgãos de Justiça, que, embora muitos não concordem com as suas decisões, visam sempre conseguir punir e fazer com que se repare os danos causados às vítimas não mortais e às famílias dos que acabam por sucumbir, infelizmente.
Só que, mesmo em tempos modernos, com uma forma de justiça que faz escola em quase todo o mundo, ainda assim existem cidadãos que se julgam acima, muitos dos quais recorrendo a pretensos hábitos e costumes para justificar as atrocidades que cometem.
No ano passado, em determinadas zonas de Luanda, algumas até habitadas por cidadãos que se acreditam provenientes maioritariamente da República Democrática do Congo, observou-se ainda a manutenção da Lei de Talião, onde alguns supostos assaltantes ou assassinos acabaram sendo queimados em pneus para se fazer justiça. Neste círculo de injustiças, alguns inocentes acabam por perder a vida.
Sem que antes tenham merecido um julgamento justo para se aferir as circunstâncias de tais acontecimentos, quando alguns até nem sequer estiveram associados aos crimes que lhes são imputados.
Estamos lembrados do jovem Calebe, em Luanda, que nada teve a ver com um furto algures na periferia da capital, mas acabou linchado por um grupo de populares sem qualquer hipótese de defesa.
Se já não se pode sequer tolerar estes acontecimentos, pior ainda o que se observou ontem no Culango, no Lobito, onde um grupo de populares invadiu uma unidade policial para matarem à pancada um suspeito de um homicídio que já havia sido detido.
Trata-se de uma situação inaceitável que deve merecer da Polícia Nacional e dos órgãos de Justiça uma mão pesadíssima contra os invasores e, sobretudo, os que estiveram directamente ligados às mortes no interior desta instituição afec- ta ao Ministério do Interior.
São situações como estas que devem merecer resposta à medida e exibindo os autores para se acautelar os desejos de outros vingadores. Caso contrário, um dia veremos o poder do Estado a ser posto em causa, como vimos noutras situações, infelizmente até aplaudido por alguns segmentos da própria sociedade.