Gostaria de um dia poder escrever um livro sobre como se aprende a amar um país. Não tenhamos dúvidas de que o país escolhido seria mesmo Angola, que em diversos momentos parece ser colocado nas algibeiras, até por quem parece ter a missão principal de o amar em primeiro lugar. Muito se tem escrito.
Euma das questões que se tem levantado inúmeras vezes está associada, sobretudo, à forma como muitos dos seus dirigentes olham para a antiga metrópole em detrimento da própria casa, onde habitam – alguns deles temporariamente -, trabalham e, por fim, conseguem os fundos para satisfazer todas as necessidades pessoais, da prole e até outros mais idílicos.
É por demais sabido que existem muitos que, independentemente das suas funções, posições sociais ou filiação política, estão presencialmente em Angola, em Luanda ou numa das suas ainda 18 províncias, mas mentalmente estão distantes.
Não sei se ainda se assiste, nos dias de hoje, ao voyeurismo com que se vivia nos tempos dourados. Em que muitos aos fins-de-semana não se coibiam de pegar em aviões e disparar apressadamente para a Europa, América, onde instalaram as suas mansões e outros investimentos com os dinheiros tirados de Angola.
Mas se sabe que, apesar dos anos de crise que vivemos, em que deveríamos todos apertar os cintos, há um grupo que, nos últimos tempos, se tem destacado nesta missão idolátrica de fazer da antiga metrópole o poiso de quase tudo.
Às vezes, desculpem a franqueza, fica difícil perceber se alguns têm mesmo a noção de que habitam num estado independente, tendo em conta os exemplos que vão dando no dia-a-dia.
E não se trata só da geração mais velha, porque aumenta claramente, todos os dias, um séquito a nível da nova geração que parece ter sido preparada para perpetuar esse legado ao longo dos anos em que ainda estivermos em vida.
E há pequenos exemplos que nos mostram muito do óbvio que se esperava mais normal e menos fanfarrice. A vinda de um líder de um clube, independentemente da sua grandeza, parece estar a deixar endiabrados indivíduos das variadas sensibilidades, com comportamentos tais que demonstram, porque muitos preferem pagar as suas quotas clubísticas lá e não aqui.
Não que seja avesso ao que venha de fora. Isso está fora de questão. Mas era esperado que se tivesse a mesma devoção e entrega de alguns aos clubes aqui existentes, muitos dos quais carecem de investimentos que poderiam engrandecer grandemente a nossa economia e criar empregos directos e indirectos.
Mas, antes que seja apodado de um anti-qualquer coisa, que cada um festeje e se barafuste como bem entender. Mas depois, por favor, não se peça a alguns mais entrega enquanto outros, alguns dos quais deveriam servir de modelo para uma grande maioria dos angolanos, que até carecem de exemplos firmes de patriotismo, se parecem mais do lado de lá.
Que cada um viva a sua paixão como pode. Mas que os dinheiros de Angola sirvam, em primeira instância, esse martirizado e sofrível país.