Um dia, no longínquo ano de 2005, depois de alguns anos a labutar no malogrado AGORA, de saudosa memória, dou por mim a bater com a porta juntamente com um grupo de jornalistas.
Um artigo de opinião, escrito por um dos meus mentores, Aguiar dos Santos, viria a aumentar ainda mais a desavença entre este brilhante jornalista e um grupo de jovens em que nos incluíamos.
Tudo por reivindicarmos alguns direitos, que hoje utilizaríamos com outros métodos se a história pudesse recuar. O divórcio foi eminente. As portas do também saudoso Semanário Angolense, de Graça Campos, Silva Candembo, Severino Carlos e outros, há muito que me tinham sido abertas.
Mas, embora fosse um dos espaços mais concorridos por jovens, até calejados, num destes momentos, havia recusado a proposta que me tinha sido feita anos antes. Apesar de novo, a mentalidade da velha guarda, em que a lealdade sempre foi primazia, continua a nos perseguir como naquela fase.
Vivíamos o boom da chama- da imprensa privada, aquela em que às sextas-feiras e aos sábados as tertúlias eram movimentadas pelos títulos, alguns dos quais impossíveis de serem menos- prezados, mesmo que o teor pudesse não reflectir tanto o que se chamasse.
A ida ao Semanário Angolense acabou por ser uma certeza. Não havia retorno possível desta vez, até por- que o então director e proprietário, Graça Campos, não quis que falhasse a contratação. E pior: fê-lo anunciando em primeira página, como se de um jogador de futebol, modalidade em que não tenho qualquer mestria, fosse.
E, para que não restassem dúvidas, foi ao Ismael Ma- teus, com quem já convivia, que me foi indigitada uma primeira missão com as cores do SA. E foi com ele que desabafei, igualmente, que ainda não sabia se queria mesmo permanecer neste novo desafio jornalístico.
E a resposta foi pronta: ‘vais ficar aí e ponto final. Nada de pensar mais algo contrário’. E assim foi durante alguns anos até que abraçássemos este projecto em que estamos, que caminha para perto de 20 anos.
Os anos que se seguiram foram de enormes desafios, uns dos quais a nível do próprio Sindicato de Jornalistas, onde também demos o nosso contributo enquanto fi- liados e responsáveis para um determinado pelouro.
Do outro lado, do Ismael Mateus, havia sempre o mais Velho, secretário-geral, o resmungão, conselheiro e aquele a quem se buscava sempre as bençãos para os desafios que foram surgindo.
Ora ao telefone. Outras vezes pelas redes sociais ou presencialmente, em sua casa, lá estava o bom do Ismael Mateus para dar o seu contributo e procurando corrigir o que achava que estivesse a ser mal feito do lado dos mais novos, onde estávamos incluídos.
Sou daqueles que pensa, ainda hoje, que qualquer organização, política ou outra, tem sempre os seus ‘tubarões’. Aquelas figuras que gozam de prestígio tal e podem, se depender delas, desequilibrar as balanças na hora do jogo, devido ao peso que as suas posições têm para os demais filiados. Para os jornalistas, o Ismael Mateus era um destes.
A sua opinião, mesmo que muitos discordassem, tinha sempre um certo peso, assim como de outros jornalistas pesos pesados que ainda estão em vida e nem preciso enumerá-los.
Quando desaparece alguém de quem se busca sempre benção para certos desafios, vai também uma par- te de nós. E o Ismael era isso mesmo: uma parte de mui- tos de nós, jovens jornalistas, estudantes, e dos desafios que ainda restam para o futuro do jornalismo angolano