Embora tivesse sido descrito pelo malogrado Presidente da República, José Eduardo dos Santos, como o segundo mal depois da guerra, o país nunca se viu livre de acusações vindas de várias partes em que se apontava os dirigentes de serem, naquela época, os principais promotores de tais práticas.
Entre os meados dos anos 90 e princípio dos anos 2000, era frequente o aparecimento do país no ranking dos mais corruptos do mundo, ombreando, taco-a-taco, como se soe dizer na gíria desportiva, com nações que desde muitos acabávamos por menosprezar. Mas, infelizmente, era assim que se via Angola.
Qualquer angolano que se preze se sentia revoltado, no bom e mau sentido, com o que se escrevia, publicava, em forma de textos, vídeos ou áudios. E organizações como a Global Witness, Human Right Watch e Transparência Internacional brindavam sempre o país com relatórios inamistosos, alguns dos quais acabavam mesmo por criar clivagens entre as autoridades e estas instituições.
Porém, acredito, o que foi dito, na altura, pelo músico Bob Geldof deve ter sido um dos piores comentários que tenha ouvido e lido até aos dias de hoje. E aquela ‘bujarda’, qualificando todos os governantes de criminosos, na época, além de ter sido repugnante, merecia de todos os que tinham o poder de decisão uma expressa mudança de actuação para que o mundo pudesse ver e perceber que Angola não era aquele monstro pintado pelo irlandês.
Mas é verdade que nem todos os angolanos são corruptos. E muito menos que coloquem a mão na massa. Uma realidade tanto para as pessoas comuns como para os governantes, embora se acredite que nestes tempos poucos serão os que resistam aos apetites se tivermos em conta o leque de acusações que surgem todos os dias, alguns até documentados.
Como frisou, há dias, o Presidente da República, João Lourenço, não é possível acabar com a corrupção. Nem em Angola e muito menos nos países mais avançados, onde, apesar dos níveis de desenvolvimento, há sempre alguns infelizes que caem na referida teia. Ainda assim, o importante é que não se deixe respirar aqueles que insistem em tais práticas.
Hoje, por exemplo, em Angola, acabada que está a guerra, a corrupção deve se ter constituído no primeiro mal, sendo um dos grandes entraves para o desenvolvimento do país, inviabilizando programas que poderiam se reflectir melhor na vida das pessoas.
E alguns dos casos são tão repugnantes se tivermos em conta os valores envolvidos, o que desde cedo cria no seio dos cidadãos uma expectativa muito grande em relação aos processos em curso.
Mas é sabido que, para muitos, a presunção da inocência há muito que faleceu, razão pela qual se condena os suspeitos antes mesmo do juízo final. É por isso que se deve ter muito cuidado pela forma como se apresentam estes casos à sociedade, sob pena de os cidadãos se virarem contra os seus promotores.
O procurador-geral da República disse ontem que existem dificuldades para se encontrar provas sobre os desfalques na AGT. O que pode até ser verdade. Mas, para uns, a interpretação começa já a ser extensiva, ou seja, afinal, muitas das vezes, o roubo poderá mesmo compensar.