Há dias, no programa Afrikando, da RTP África, a repórter foi agraciada com alguns quilos de feijão depois de ter estado em visita ao místico município do Dombe Grande, em Benguela, conhecida pejorativamente como sendo a ‘terra do feitiço’.
Agradecida, creio, terá questionado duas corpulentas cidadãs nativas da área se o produto recebido era o símbolo da região, ao que as camponesas, trajadas com vestes tradicionais que exaltavam a cultura do Dombe Grande, responderam que sim.
Com enormes potencialidades agrícolas, durante muitos anos deu-se a conhecer Dombe Grande e muitas outras regiões do país mais pelo lado pejorativo.
Havia – ou ainda haverá- quem mesmo nos dias de hoje não encare de bom grado uma visita a estas terras por temer coisas que só mesmo as nossas mentes, algumas das quais ainda poluídas tentam em manter, enquanto se vai perdendo com isso inúmeras oportunidades.
As imagens reportadas, recentemente, pela TV Zimbo, demonstram que, afinal, longe do que muitos erradamente pensam, Dombe Grande é uma terra de enormes oportunidades, mas que, infelizmente, vai sendo aproveitadas por cidadãos provenientes da República Democrática do Congo, que acaba adquirir, por exemplo, todo o feijão aí produzido e exportar para as várias regiões do país vizinho.
Assim como feijão, que acaba até por ser adquirido na terra, com os comerciantes estrangeiros a financiarem o cultivo e outras despesas dos camponeses, outros produtos como peixe seco e sal também saem quase que diariamente em camiões para o outro lado do continente africano.
É sabido que nos mercados formais e informais, os preços de determinados produtos se vão apresentando até como quase proibitivos.
De igual modo, também se acredita piamente que a produção nacional seria a solução para que se amenize a alta que se observa, mas o que se vê é que grande parte do que sai dos nossos campos também acabam por ter como destino outros países.
As imagens que vieram a público acabaram por levantar inúmeras interpretações.
Alguns apontam o dedo ao Executivo, como sempre, esperando que seja do lado deste que está a ineficácia dos programas que poderiam possibilitar a saída dos produtos do campo para os grandes centros populacionais.
Porém, muitos também se esquecem das oportunidades abertas que poderiam ser exploradas, sobretudo, por empresários angolanos.
Retirando os produtos dos campos para as cidades e ainda exportá-los para os países vizinho, criando com isso uma sustentável cadeia de valores.
Distante do que muito se fala – e se critica de forma acirrada-, afinal, vai existindo produção.
E é pena que aquilo que poderia servir antes o mercado interno acabe por alimentar outras bocas e barrigas que não as nossas.