É comum vermos manifestações nas ruas com milhares de cidadãos exigindo melhores condições de vida. E têm sido inúmeras as razões, algumas delas associadas ao lema de sempre ‘luta por melhores condições de vida’. Quem lê os vários dísticos espalhados nas manifestações ou escuta os desabafos dos internautas, ouvintes ou telespectadores nos meios de comunicação social tradicionais ou ainda nas redes sociais, por exemplo, encontrará reclamações sobre o não abastecimento de água, fornecimento de energia eléctrica em determinados pontos e melhoria dos cuidados de saúde, principalmente.
Gostaria de me ater aos dois primeiros itens, energia e água que são dois bens fundamentais para a vida dos cidadãos, não sendo em vão que o Executivo angolano esteja a investir milhares de milhões de dólares para que todos possam ter acesso.
Já lá vão os tempos em que a falta de energia era o grande calcanhar de Aquiles, com interrupções várias e demoradas, que nos obrigava de forma saudosista a enunciar o ‘Lujjjééé!!!’ quando fosse retomado o fornecimento. Porém, quanto à água ainda podemos estar alguns furos abaixo, mas pelo que se diz, segundo constatações do próprio ministro da pasta, João Baptista Borges, bons dias virão com certeza.
Enquanto de um lado se luta para que os cidadãos possam ter água e energia com fartura, do outro la- do crescem, assustadoramente, as dívidas para com as duas empresas que têm a árdua e difícil missão de colocar os produtos nas casas dos angolanos. Ou seja, há da parte de quem reclame energicamente, com manifestações e outros tipos de impropérios contra o Estado, uma vontade expressa de nem se- quer honrar com os gastos daquilo que lhe faz falta. É recorrente ouvirmos responsáveis da Prodel e da EPAL, em Luanda, e de outras províncias de abastecimento de água sobre as dívidas colossais contraídas pelos clientes em muitas zonas do país.
Curiosamente, à medida que o tempo vai passando, também se assiste a um crescimento do kilape, enquanto que, supostamente, de um lado se tem a impressão de que os cidadãos, muitos dos quais kilapeiros, dizem ter uma maior consciência cívica e até democrática, o que lhes permite exigir cada vez mais do Estado, como e quando lhes apetece. Pelo número de clientes que possuem, embora existam aqueles que ainda façam um gatinho para a energia eléctrica, e garimpeiros no caso da água, as empresas que fornecem estes serviços seriam, inevitavelmente, autossuficientes, não precisando de inúmeras injecções financeiras do Estado.
Só que assim não tem sido, razão pela qual temos visto os seus responsáveis constantemente no muro das lamentações, havendo vezes até em que se fala de constrangimentos vários por falta de dinheiro até mesmo para a aquisição de peças sobressalentes. Sempre que se fala em dívidas para com as empresas deste sector, olho para os meus botões e tento perceber as razões que levarão um cidadão a não querer sequer pagar o que bebe ou ainda a energia tão preciosa que lhe permite desenvolver as suas actividades? Claro que existirão aqueles que não possuem mesmo capacidade financeira.
Mas há um outro leque de indivíduos que até são abastados, mas nem isso lhes faz honrar com estes compromissos. Há dias quando escutei uma música do grande cantor gospel angolano Miguel Buila, com o título ‘Tira esse coração de pedra’. Quem sabe muitos destes cidadãos que só pensam ter direitos e não deveres não se sentissem também tocados e mudassem de posição.