Se tivéssemos iniciado as eleições autárquicas há algum tempo, desde que se começou o debate, mesmo que fosse de forma gradual, a esta hora o país já teria visto todos os seus municípios a organizarem o referido processo.
Até pouco tempo, pelo que vimos, era o gradualismo o factor que causava mais distanciamento entre os principais partidos políticos, nomeadamente o MPLA e a UNITA.
Inicialmente, quando o assunto veio à baila, reconheça-se, por conta e risco do Presidente João Lourenço, assim que começou o primeiro mandato, em substituição do malogrado Presidente José Eduardo dos Santos, que se pensava que as lideranças políticas pudessem ultrapassar facilmente as divergências que foram manifestando.
O que não acontece até ao momento. Apesar das pressões políticas vindas da sociedade, sabe-se que em política dificilmente se pode ganhar tudo nos tempos modernos.
É indiscutível – e também aceitável – que exista, no seio da oposição, o desejo ardente de chegarem ao poder, nem que seja inicialmente gerindo algumas edilidades, como trampolim para voos mais sérios.
E é legítimo também que se reconheça que quem está no poder faça de tudo para a sua manutenção. Ainda assim, pelo que se tem assistido, viu-se no MPLA, através da Assembleia Nacional, a iniciativa da propositura das principais leis que podem levar o país às primeiras eleições autárquicas, um objectivo que muitos acreditam que possa vir a ajudar a melhorar não só a gestão do que é público, como também fazer com que a nível das administrações-autarquias se resolva alguns problemas que no actual cenário acabam por levar uma eternidade para que aconteçam.
Actualmente, pelo que consta, o processo emperrou por conta de duas leis na Assembleia, entre as quais a da Institucionalização das Autarquias, que uma vez mais colocou em desacordo os dois maiores partidos do país.
Na edição de hoje deste jornal, o deputado Virgílio Tyova garante a predisposição do seu partido, MPLA, em chegar a um consenso com os seus principais rivais, para que o processo possa, finalmente, avançar. Pelas explicações do político, aguarda-se que a UNITA possa também estar de acordo para que se alcance um objectivo comum.
A verdade é que, em relação às leis pendentes, existe uma acentuada diferença de interesses no Parlamento, o que deverá obrigar que um dos partidos tenha de ceder a sua posição. Às vezes, é preciso que se façam concepções quando está em causa um bem maior, por exemplo.
Se recuarmos no tempo, olhando para os anos que a discussão já leva, estamos certos de que hoje muito teria evoluído favoravelmente se a irredutibilidade tivesse sido afastada em nome das autarquias que alguns olham como uma possível tábua de salvação dos seus dilemas.