Lembrei-me há dias de algo que gostaria de ter sonhado ou visto. Mas, ainda assim, o imaginário levou-me a pensar que tipo de conversa veria por estes dias no país, à luz dos últimos acontecimentos que se registaram, marcados particularmente pela vinda do Presidente Joe Biden.
Lembrei-me daquele indivíduo casmurro que, mesmo tendo a possibilidade de perceber de geopolítica e as últimas movimentações que giram à volta do planeta, teimava em acertar que dia um Presidente dos Estados Unidos pudesse, um dia destes, pisar o solo angolano, tudo porque acredita ‘alone’ que nada de bom se faz neste país.
as, este também não estava sozinho, mesmo quando um dia destes anunciou-se, inicialmente, que já havia uma data concreta marcada para o efeito, tendo sido apenas protelada na sequência de uma catástrofe natural, aí na Flórida, que só, por sorte, alguns entre nós não imputaram ao Executivo angolano.
Mas, quando se disse que o homem viria, sabendo- se que o seu mandato termina somente em Janeiro próximo, sentiu-se na necessidade de se encontrar outros argumentos, porque o essencial é que não se olhasse para a positividade do encontro e muito me- nos para as possibilidades de investimentos que irão proporcionar nos próximos tempos.
Ainda assim, nem mesmo os valores de investimentos chegaram também para, no mínimo, levar com que muitos se apercebessem de que, de facto, se estava ainda perante o líder da maior potência do mundo, cuja presença e apelo quase sempre podem funcionar como catalisador para outros players no mercado angolano e até mesmo na região austral.
Sendo verdade que não nos devemos embandeirar em arco, ainda assim, parece preocupante a surdez propositada que muitos fingem ao não ter ouvido nos últimos dias, mas que, preocupantemente, parece lhes ter dado combustível para alimentar vaticínios.
Em suma, vendem a tese de que está tudo perdido, o mesmo argumento ciclicamente alardeado quando Angola se posicionava ao lado de um único gigante mundial, a China. Enquanto no mundo, que nos últimos dias centrou as suas atenções nas possíveis vantagens e desvantagens nesta relação, sobretudo com a entrada em peso no corredor do Lobito, para contornar o percurso longo entre o índico e o Atlântico, há quem, mesmo não estando envolvido directamente no projecto milionário, já se apressa em concluir que de nada vale.
Se se lhes perguntasse as razões pelas quais pensa que assim será, poderemos crer que muitos se limitarão ao joguete habitual, em que irão unicamente num exercício repetido de baixar e levantar a cabeça, para cima e para baixo. Em suma, tudo indica que, entre nós, existam mesmo muitos que, ao longo dos anos, se farão passar por surdos.
Não têm a solução final para os problemas, mas também nunca aceitarão que existirão alguns anos a fazer alguma coisa para se encontrar mecanismos para se aumentar os postos de trabalho, obtenção de financiamentos, melhoria da circulação de pessoas e bens.
Enquanto uns tentam, no mínimo, fazer alguma coisa, há quem pense que os nossos problemas serão, na plenitude, resolvidos por outros. Só assim se percebe que alguns, fingindo não escutar – ou até nem ver–, pensem que até a comida tem de vir necessariamente de outros pontos. Quem sabe até do céu.