Aos poucos, embora ainda perdure algum tempo, em determinadas áreas do país há um negócio que vai perdendo o fôlego entre os comerciantes: a venda de geradores. Há dias, um amigo falou-me da possibilidade, caso estivesse interessado, de puder comprar um gerador que há muito anda descansado, ou seja, não é sequer utilizado devido à normalização do fornecimento de energia em quase todo o país.
O aumento de barragens, por exemplo só mesmo a nível do Cuanza, onde se tem Laúca, Cambambe e agora Caculo Cabaça, fez com que milhares de angolanos em quase toda a extensão do país deixassem de lado os grupos geradores, desfrutando assim dos benefícios que a produção de energia limpa nestas infra-estruturas hidroeléctricas vão proporcionando. É quase unanime. Seja a nível dos bairros, como até nas grandes cidades, que um dos maiores ganhos alcançados em Angola, depois do fim do conflito armado, assenta, fundamentalmente, na produção de energia électrica – e agora fotovoltaica– que permite com que muitos dos cidadãos se possam beneficiar deste produto.
Ontem, por exemplo, entrou em funcionamento a Central Fotovoltaica de Saurimo, na Lunda Sul, um empreendimento que comporta 44 mil 850 painéis solares, prevendo produzir mais de 49 mil MWh/ano, num investimento de 38,8 milhões de euros. Trata-se de um projecto que vai levar energia eléctrica a mais de 170 mil famílias nesta região do leste do país. Além deste benefício, o projecto vai permitir igualmente que o Estado angolano poupe todos os anos, só na Lunda-Sul, particularmente na sua cidade de Saurimo, cerca de 190 milhões de litros de combustíveis.
Se tivermos em conta os preços hoje pagos por cada litro, seja de gasolina ou gasóleo, ter-se-á uma noção exacta do quanto o Executivo angolano passará a ter para aplicar noutros domínios da vida social e económica dos referidos populares. Consta que o projecto ontem inaugurado faz parte de um plano, denominado Plano ‘Energia Angola 2025’, que visa diversificar a matriz energética do país, beneficiando aproximadamente 60 por cento da sua população rural. Em curso estão, igualmente, um conjunto de sete parques solares a serem instalados até ao final deste ano, nas províncias de Benguela, Huambo, Bié, Lunda-Norte e Moxico, com uma capacidade total de 370 MW.
Sempre que se resolve um problema dos angolanos, independentemente das cores políticas, há motivos para alegria. E mais do que isso: além dos geradores, que vão sofrendo baixa devido à normalização do fornecimento de energia, há a esta hora escondido um grupo que se vai amargurando com a possibilidade de não se ter mais ao dispor as conhecidas centrais térmicas. Aliás, há poucos anos soube-se que o abastecimento destas centrais térmicas possibilitou o enriquecimento de muitos cidadãos através dos desvios que combustíveis que faziam.
Pena é que, apesar de um trabalho aturado feito pelos órgãos de investigação, incluindo afectos aos serviços de inteligência, não se conseguiu trazer a público quem eram os principais larápios que lideravam o roubo de gasolina e gasóleo que supostamente serviriam para as centrais térmicas que se vão tornando inactivas.