Não te queria mais importunar. Estamos cientes de que mereces um repouso à dimensão de tudo quanto fizeste por Angla. A nível da literatura e noutras andanças em que com sapiência bem se posicionaste. Ainda assim, Dário, torna-se difícil não te incomodar. Esperamos que compreendas. Afinal, há coisas que nunca nos sairão da cabeça e uma delas foi aquela que contaste na entrevista que fizemos para abordar a tua vida, mas acabaste também por nos mostrar muito do que se passava pelo país.
Embora já tenhas partido, acreditamos que estejas entre os bons ao lado do Altíssimo, os nossos problemas continuam. Ainda há problemas de energia, de água e, nalguns pontos, até mesmo de saneamento. Não há dúvidas quanto a isso, embora se reconheça as melhorias que vão ocorrendo neste esforço contrarrelógio que o Executivo vai fazendo, sobretudo agora que o direito escasseia e o Kwanza vai esmo- recendo cada vez mais.
Lembraste, seguramente, do que disseste sobre as estradas no país e os buracos que vão surgindo a cada dia. Não há como nos esquecermos disso. Os buracos em muitos pontos continuam e parece que ninguém dá por eles.
Há dias, como tem sido habitual, voltei a percorrer a Estrada Nacional 230 B, aquela que dá pela Ma- ria Teresa, Gulungo Alto e Ndalatando. A mesma via que encurta, e muito, a viagem entre o Norte, Leste e Nordeste em mais de 70 quilómetros, fazendo com que os automobilistas não tenham de passar pelo temível Morro do Binda.
A estrada continua lá. E muitos dos buracos também. Conheço alguns. Até posso lhe dizer que tenho nomes para alguns. E à medida que o tempo passa vão aumentando sem que ninguém dê por eles.
Dário, lembraste de teres dito que em Angola os buracos nascem pequenos. Muito pequenos mesmo. Mas isso não se torna preocupação para quem deve velar por eles ou, no mínimo, criar condições para que não aumentem sequer.
Estarás recordado de teres dito que quando os buracos são pequenos não têm qualquer importância. Ninguém vê neles alguma preocupação porque se não crescerem podem também significar menos recursos e com isso menos benefícios para quem um dia vai ou deve tratar deles.
A cada dia que passa, para desgraça de quem frequenta a Estrada Nacional 230 B, os buracos aumentam. Aumentam as preocupações e os prejuízos para os automobilistas, apesar de todo o clamor. Como pressagiaste, em tempos, certamente que muitos aguardam que os buracos ganhem algum estatuto e impossibilitem mesmo o tráfego naquela zona do país.
Quem sabe assim não surja quem se importe de verdade. Afinal, buracos sem estatutos em Angola não são levados a sério. E hoje te compreendo. Por isso, Dário, desculpe que te tenha interrompido o seu sagrado e inevitável repouso.