Por mais que não se queira, não há como ficarmos longe até mesmo daquilo que não conhecemos. Até que surgissem nas agendas noticiosas de algumas cadeias de televisão, nunca tinha ouvido falar da propalada Tropa da CAOP, um grupo de Kuduro que, num ápice, saltou para a ribalta, e a música começou a tocar em várias estações de TV e até em rádios.
Embora não seja um grande apreciador do estilo, aprecio alguns fazedores deste estilo musical. Alguns até acabam por ser uma grande referência noutros segmentos, por poderem evidenciar que, através das suas músicas, abstêm-se de outros vícios mais nefastos.
Quando se fala dos Lambas, por exemplo, recua- se a um passado do grupo pelo bairro Sambizanga, onde também se diz que alguns dos seus anteriores integrantes inicialmente estivessem associados a situações deselegantes, mas o tempo mostrou que se transformaram posteriormente em estrelas e mentores até de uma geração. A dimensão atingida pelo malogrado Nagrelha ainda não tem comparação.
Aliás, o seu cortejo fúnebre demonstrou que se estava perante uma figura de elevada credibilidade no seio de um sector da juventude, que o seguia e via nas suas actividades e atitudes um caminho para o futuro.
Quando olhei para um spot de uma cadeia de tele- visão uma notícia sobre um determinado Pai Patinhas, espero ter acertado no momento, estava aí alguém próximo do que representou Nagrelha ou outros fazedores de Kuduro no país. Mas era mais uma figura que nos entrava em casa, através da TV, jornais e redes sociais, por conta deste estilo de música ainda por muitos marginalizado.
À semelhança do que ocorreu noutras paragens do mundo, com o rap, funk, trap, muitos são os jovens que se vão impondo, mesmo contra a vontade de muitos, numa sociedade em que nunca se- riam conhecidos, nem tão pouco pelas acções delituosas em que se envolveram.
Com o passar dos anos, vai-se tornando imperioso que se olhe para o Kuduro e outros estilos, tidos como marginalizados, como uma realidade com a qual teremos que conviver no dia-a-dia.
Nas festas mais modestas ou até mesmo naquelas mais sofisticadas, a dada hora da noite os casacos saltam ao som de Noite Dia, Jéssica Pitbull, Lambas e outros. Como cantou um dia alguém, ‘‘mesmo que não está bom, você dança só’’.
E é o que vai acontecendo, incluindo além-fronteiras, onde um dia um forasteiro se intitulou como criador, porque até mesmo por parte de algumas autoridades aqui vai faltando este reconhecimento.
A verdade é que, em muitos países, esses estilos tiram jovens da pobreza, criam autênticas indústrias de espectáculo, com empregos directos e indirectos, onde até o próprio Estado vai buscar o seu quinhão em termos de impostos, independente- mente de muitos dos seus agentes e actores directos andarem envolvidos em polémicas e acções menos honestas.