Em meio a risos, um amigo perguntou há dias qual será o próximo escândalo. Respondi-lhe que não sabia. Aliás, quem saberá o que irá acontecer nos dias que se seguem, depois da avalanche de informações sobre corrupção que nos foram dadas?
Ainda estamos por engolir como foi possível que da Autoridade Tributária se tenha surripiado, num esquema sem precedentes, mais de sete mil milhões de kwanzas; que o IGNABE não tenha conseguido justificar os largos milhões de dólares ao Tribunal de Contas e agora precisa de um empréstimo bancário para atender os estudantes angolanos no exterior; ou então as informações até agora não desmentidas sobre o que se terá passado no Ministério do Ambiente.
Numa altura em que os angolanos estão cada vez mais com os cintos apertados, podendo até em muitos lares não existir mais furos ou fivelas que suportem, é imperioso que não se permita o crescimento deste sentimento de impunidade que vamos observando. Nem tão pouco que cresça igualmente esta sensação em alguns de que a luta contra a corrupção possa estar a titubear.
Há dias, ouvindo um debate na Rádio Mais, por sinal do grupo a que pertence este jornal, um dos participantes dizia que, infelizmente, algumas instituições não possuíam, nesta fase, os departamentos de inspecção a que num passado nos habituamos.
Entre estes, dizia, estaria o Ministério das Finanças. É bem verdade que, nos últimos tempos, instituições como a Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) tenham ganhado mais força e vão demonstrando uma maior capacidade de actuação.
Porém, queremos crer que ainda assim não se pode permitir que se descure de outros órgãos ou mecanismos de inspecção ou fiscalização para o bem das Finanças Públicas.
Dizia, em tempos, um conhecido que, do mesmo modo que as instituições aperfeiçoam as suas acções ou delapidadores do erário, também criam mecanismos para que mantenham as suas acções, mesmo desonestas, intactas e, com isso, retirarem o que é público para os seus fundos.
Só assim se pode deduzir que, enquanto se emprega uma luta feroz contra a corrupção e os corruptos, ainda persistem indivíduos que parecem não se sentir intimidados.
Em cada fase de luta, é imperioso que nos adaptemos. Houve quem, numa fase inicial do combate à corrupção, defendesse, inclusive, o terror em certos domínios, devido aos vícios e à quantidade de dinheiro que tinha saído de Angola.
Quem sabe se não seja já necessário que se consiga ter, por exemplo, acesso às relações de bens de certos gestores, ou até mesmo de personalidades que exercem cargos de relevância.
Para que cada angolano, minimamente informado, seja ele próprio um fiscal não só das acções destes, mas sobretudo do hipotético crescimento de um património que não se consegue justificar, como inúmeras vezes se suspeita de alguns que entram com quase nada e acabam por sair com quase tudo. Tudo mesmo.