Depois do anúncio do ministro de estado e chefe da casa Militar do presidente da república, general Francisco Furtado, sobre o possível envolvimento de altas patentes das FAA e da polícia nacional no contra- bando de combustível, assim como políticos e governantes, a sociedade angolana ficou escandalizada, porque não se adivinhava que o esquema estivesse ao mais alto nível.
Quando se apreendem camiões, contentores e milhares de recipientes, pensa-se inicialmente no pacato cidadão que precisa de vender, se calhar, uns litros para obter algum lucro e poder sobreviver.
Na verdade, muitos destes acabam sendo peões num negócio milionário em que estão ligados indivíduos que têm ou tinham por missão travar esta actividade que lesa em largos milhões de dó- lares norte-americanos a economia do país.
Se as declarações de Furtado já criaram calafrios, com centenas ou milhares de cidadãos exigindo que se dissesse quem são os contrabandistas, a recente intervenção do presidente da república, João Lourenço, no tradicional estado da nação, acabou por colocar ainda mais achas na fogueira. sem contemplações, João Lourenço disse que entre os contrabandistas estão políticos e até deputados.
Foi uma tirada que deixou não só boquiabertos muitos dos presentes, como, certamente, terá feito com que alguns dos deputados vissem o coração vir a baixo caso estejam mesmo meti- dos nesta negociata que vai sendo cercada a cada dia que passa.
Agora, ao que parece, já há um processo de facto que deu entrada na procuradoria-geral da república que deverá correr os seus trâmites. Afinal, o mistério que parecia existir para muitos fazia com que alguns até insinuassem que se poderia tratar de um ‘bluff’.
Até ao momento, ainda não se conhecem nomes. eles existem, mas o segredo de justiça muitas das vezes exige isso, mesmo quando as matérias são de interesse público. não obstante a isso, não tarda que se venha a saber quem são os governantes, oficiais da polícia ou das Forças Armadas que se foram enriquecendo tirando o combustível de Angola para os mercados da república democrática do congo, Zâmbia e até Namíbia.
Claro está que alguns dirão que são inocentes. um direito que lhes cabe, porque afinal a presunção de inocência assim dita. Mas nunca deixou de fazer espécie que, sobretudo nas províncias fronteiriças, houvesse combustível para os seus habitantes, quando todos os dias passam pelas suas estradas dezenas ou até centenas de camiões com gasolina, gasóleo e petróleo iluminante.
E muitos destes camiões, por incrível que pareça, conseguem transpor as dezenas de postos de controlo que existiam ou ainda existem nas estradas nacionais no norte, sul, leste e nordeste de Angola.
Uma proeza muitas das vezes não atribuída aos simples camionistas, mas sim o senhor ordem superior, que só é possível sair de quem de facto tenha uma posição política, militar ou policial acima da média para ordenar que não se mexa nas mercadorias em trânsito.