Diz-se que terá sido o malogrado governador de Malanje, Flávio Fernandes, o autor da célebre frase ‘‘o cabrito come onde está amarrado’’, para justificar o açambarcamento de bens nesta província que lhe era imputado pelos locais e outras pessoas.
Embora se acredite que tivesse dito isso num determinado contexto, eram por demais evidentes que muitos governantes faziam negócios com eles próprios. Seja a nível dos governos provinciais, ministérios, direcções nacionais e provinciais, foram poucos os responsáveis que não assinavam às manhãs com a mão esquerda enquanto titulares dos respectivos postos, mas à noite com a direita acabavam por abocanhar, sem qualquer concorrência, as empreitadas e outros negócios existentes.
Foi por isso que durante anos existiu, jocosamente, a famosa fase do cabritismo, em que muitos, a partir dos seus próprios gabinetes, se apropriavam dos negócios, infra-estruturas e grandes extensões de terrenos ao longo do país.
As excepções até hoje ainda são poucas. E a vida faustuosa que muitos levam, sobretudo na Europa, onde acabam descobertos pelas investigações da imprensa ou nos escândalos em que se envolviam, comprovam de que forma muitos se lambuzavam. No tempo da outra senhora, sobretudo, houve até quem se sentisse envolvido numa espécie de competição de caça fortuna.
Só por isso, sem pejo, houve quem organizasse festanças, no Mussulo e arredores, para comemorar com pompa e circunstância o aumento de mais zeros nas suas contas bancárias em dólares norte-americanos.
Só por isso, muitas vezes, saber que um determina- do responsável governativo, oficial da Polícia Nacional ou das Forças Armadas esteja envolvido em negociatas deixou de ser uma grande novidade para muitos angolanos e outros cidadãos residentes neste grande e rico país. Incapazes de suster os apetites vorazes, muitos não conseguem sequer resistir ao mínimo ‘cheiro’ de negócios que lhes surjam às vistas.
Como se vêem nos dias que correm com o contrabando de combustível para a República Democrática do Congo e outros países, mesmo colocando em xeque a economia e a segurança do país.
E as afirmações feitas na terça-feira pelo general Francisco Pereira Furtado, ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, João Lourenço, de que já foram apurados quem são os governantes e oficiais militares e policiais envolvidos no contrabando de combustível só evidenciam que há, ainda, muitos sedentos por dinheiro fácil, nem que para isso continuem a lesar o país.
Na verdade, estancar este tipo de mal e vícios, depois de longos anos de actuação, que se acredita ter abrandado com o início do combate à corrupção, leva muito tempo.
Mas, para tal, é necessário que os envolvidos sejam julgados e punidos exemplarmente, até porque, segundo o general Furtado, eles já são conhecidos com base nos trabalhos de investigação efectuados pelos grupos integrantes da comissão multissectorial para o combate ao contrabando de combustíveis.