Pode parecer hoje um pequeno anúncio. Está situado a escassos metros do gigantesco hotel construído nas encostas do eixo viário e dá as boas- vindas ao secretário de Estado norte-americano, Antony blinken, que começou na madrugada de ontem uma visita de algumas horas ao nosso país. Há poucos anos era quase que impossível. primeiro, ver uma empresa americana a anunciar naqueles moldes, segundo porque as relações entre os dois países eram de cortar à faca.
Lembro-me, ainda novo, de ter assistido, no meu Cazenga, às rusgas que se faziam devido ao elevado conflito nas matas entre as forças governamentais e o então braço armado da uNITA, as FALAS, numa fase em que estes eram abertamente financiados e abastecidos com algum material norte-americano, enquanto o Estado angolano era visto como parte do bloco socialista e apoiado pela então união das repúblicas Socialistas Soviéticas. Diz-se que as rusgas dos “Não-Alinhados” terá sido uma das piores, porque se buscava a todo custo equilibrar o que acontecia no campo militar.
Terá sido neste período — ou um pouco antes — que, através dos meios de comunicação, com destaque para a televisão, se divulgava um anúncio inusitado em que se solicitava ao então presidente dos Estados unidos Ronald Reagan que tirasse as mãos de Angola. Naquela altura, até para o mais comum dos angolanos, não se nutria grandes simpatias nem se admitiria que se pudesse publicar anúncios de boas-vindas como as que hoje, felizmente, podemos ver sem grandes esforços no eixo viário. Felizmente, mudam-se os tempos e também se podem mudar as vontades.
Apesar de enormes animosidades e um passado que pressupunha para uns a impossibilidade de se estabelecer uma relação profícua entre Angola e os Estados unidos, a verdade é que os dois países estão mesmo a viver um sério romance diplomático. A vinda de blinken, depois de ter estado em Angola o secretário da Defesa, e em Dezembro o presidente João Lourenço ter estado com o seu homólogo dos Estados unidos, Joe biden, em plena Casa blanca, é um sinal claro do que se pretende construir. Em curso já estão vários acordos e projectos, incluindo o auxílio nos estruturantes que visam melhorar sobremaneira a diversificação da economia.
Mesmo que se espere por cautelas do lado angolano, porque se diz na relação entre os Estados existem apenas interesses e não amizades, não há dúvidas de que um aliado como os norte-americanos acabam por ajudar a abrir muitas portas e a convencer inúmeros investi- dores, sobretudo a partir do Ocidente. E não espanta que, a esta hora, quando se alicerçam as relações entre Angola e os Estados unidos da América, existam aquelas que se questionam: afinal, o que queria reagan quando lhe dizíamos para que tirasse as mãos do nosso país?