Um encontro entre o Presidente da República, João Lourenço, e o primeiro-ministro demissionário de Portugal, António Costa, desfez algumas das expectativas que muitos tinham em relação ao grosso do capital angolano desviado para solo português.
Graças ao processo de repatriamento de capitais, iniciado no âmbito do combate à corrupção, vários milhões de dólares em dinheiro — e outros em bens imóveis — acabaram por estar à disposição do Executivo.
O expectável era que se pudesse chegar a muito mais. Ou seja, se possível, almejar o retorno da maioria do capital exportado, muitos dos quais aportaram em solo luso, onde hoje reside uma poderosa diáspora angolana, entre os quais alguns indivíduos até então acusados de terem desviados dinheiro público.
Não é em vão que até mesmo alguns indivíduos que se encontram a contas com a justiça tiveram refúgio seguro neste e noutros países. Também pudera! Afinal, muitos destes encontravam porto seguro nestas localidades onde transferiram o capital amealhado em Angola, sabendo-se desde já que dificilmente estes dinheiros pudessem regressar tal como preconizávamos, apesar da sua eventual ilicitude.
Aliás, o primeiro-ministro demissionário português, António Costa, realçara ao chefe de Estado angolano que não havia como se retirar da economia lusa os largos milhões lá colocados. E assim parece ter sido. Embora se reconheça a proveniência duvidosa de alguns fundos, nem por isso veremos muito do capital transferido por muitos cidadãos angolanos, porque acabaram investidos em activos em diversos sectores.
Apesar disso, mantém-se em muitos ainda acesa a chama da exportação de capitais, independente- mente da escassez de divisas a que se assiste regularmente. A quantidade do dinheiro que sai continua a ser superior a que entra através de segmentos da própria comunidade por meio de remessas.
Contrariamente ao que se observa noutras diásporas africanas, a angolana é aquela que mais retira do seu próprio país para o exterior. Só por isso é que uma medida como a avançada pelo Executivo angolano de se taxar determinadas transferências para o exterior acaba por criar enormes calafrios há muito boa gente.
Quem acompanhou as explicações passadas pela ministra das Finanças, Vera Daves, no início da discussão da proposta que visava a introdução de taxas para as transferências, percebeu de antemão que muitos segmentos, como os doentes, estudantes, empresários e outros estarão afastados dos grupos visados. E não poderia ser diferente.
Só que habituados a caminhos inversos, quando o ideal seria trazer para aqui as divisas que tanto se procura, ainda persistem segmentos que preferem acreditar que aqui se deveria permitir tirar tudo. À semelhança do que se observava noutros tempos — e agora também se deve assistir —, levar de Angola para o exterior para estes parece ser normal. E, se for então de borla, ainda melhor.