É bem provável que para muitos as queixas do governador do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho, sobre o contrabando de combustível na província que dirige, pudessem ser vistas como mais algumas no rol das várias que todos os dias são feitas por responsáveis públicos e até cidadãos comuns.
Mas não foi, felizmente. Em apenas seis meses, o que parecia ser uma denúncia comum veio demonstrar que, afinal, o país perdia largos milhões de kwanzas e dólares por conta do negócio que era efectuado sem quaisquer interferências, até mesmo das próprias autoridades policiais.
Desde Agosto, altura em que o Presidente João Lourenço esteve no Zaire – e dias depois mandatou o ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Francisco Furtado, para se inteirar do assunto – não há uma única semana em que não sejam apreendidos milhares de litros de gasolina, gasóleo e até petróleo luminante que tinham como destino a República Democrática do Congo, Zâmbia e até a Namíbia.
Como se fosse moda, poucos são os noticiários e as investidas policiais, um pouco por todo o país, em que se vêem os milhares de litros apreendidos, o que evidencia um negócio extremamente organizado que ocorria aos olhos de muitos, enriquecendo igualmente um restrito número de pessoas.
E é nestes momentos que nos perguntamos: afinal, como é possível que este contrabando ocorria sem que se estancasse o mal? Quem são ou foram os seus principais beneficiários? Quanto os mesmos terão lesado os cofres públicos? Para já, é ponto assente que não se trata, nem se tratava de uma operação urdida por comuns mortais, tendo em conta a logística e as influências necessárias para que se pudesse contornar todas as barreiras físicas e até imaginárias que existem nas estradas nacionais, fronteiras e até mesmo nas empresas que forneciam ou ainda fornecem o próprio combustível.
À medida que o tempo vai passando, os esquemas desmontados e os resultados apresentados pelas forças policiais, apercebe-se, claramente, que as afirmações do general Francisco Pereira Furtado, de que estariam envolvidos governantes, oficiais das Forças Armadas e da Polícia Nacional, afinal, não se tratava de nenhum enigma.
É que não seria possível movimentar os milhões de litros todos dias sem convivência de alguns influentes. E três meses depois, durante o seu discurso sobre o Estado da Nação, o Presidente da República, João Lourenço, garantiu, também, que entre os supostos contrabandistas estarão também alguns políticos.
É obra! Hoje, mais do que nunca, se torna imperioso que se conheçam quem são os principais rostos que lideram – ou lideravam – este negócio que deixou sem combustível durante anos milhares de angolanos e impossibilitando até o desenvolvimento de determinadas circunscrições do país, onde até aos dias que correm o petróleo e seus derivados são ouro.