Sempre que penso na relação entre os Estados Unidos e Angola, com antecedentes históricos dignos de grandes produções cinematográficas, vêm-me à memória as ameaças de um político angolano que num da- do momento, acossado por situações que considerava menos boas, garantiu aos quatro cantos que se iria queixar aos americanos.
A guerra fria, em que de um lado estava um bloco liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), então protectora de Angola, e do outro lado os Estados Unidos da América, que apoiavam militar, financeira e politicamente a UNITA, afastava os dois estados.
Não foi em vão que somente nos anos 90, na vigência de Bill Clinton, que os norte-americanos vieram a reconhecer, formalmente, a República de Angola, não obstante ao facto de as suas empresas, sobretudo as petrolíferas, explorarem o crude no nosso território.
Desde então, mesmo que muitos torcessem para o contrário, começou-se a registar um incremento nas relações entre os dois países.
José Eduardo dos Santos esteve na Casa Branca, num determinado momento, e agora João Lourenço acaba por cimentar ainda mais aquilo que se pode esperar para a melhoria dos interesses perseguidos pelos dois países.
Embora não se possam ainda determinar os ganhos, a vinda do Presidente Joe Biden a Angola, entre os dias 13 e 15 de Outubro, como anunciou inicialmente a própria Casa Branca e ontem, no cair do dia, o Palácio da Cidade Alta, representa, sim, um enorme ganho para a diplomacia angolana, sob liderança do Presidente João Lourenço.
Não se precisa ser expert em relações internacionais para se perceber que os Estados se guiam por interesses.
É crível que os norte-americanos tenham os seus e nós, os angolanos, também devamos procurar levar a bom porto a necessidade da satisfação dos nossos desígnios.
O Corredor do Lobito é, neste momento, uma das jóias da coroa para os norte-americanos. Apesar de cortar o território angolano do mar ao leste, trata-se de um portentoso investimento cujo interesse resvala as nossas fronteiras.
Mas a vinda de Joe Biden, certamente, servirá de élan para muito mais. Pode até servir de chamariz para outros investimentos e o despertar de outros interesses por parte da comunidade do seu país, assim como de outros players.
O ideal seria que os angolanos vissem o momento com algum entusiasmo, mesmo que os resultados não sejam imediatos. Pena é que alguns olham para os seus interesses de forma camuflada.
Basta ver a maneira como muitos, atabalhoadamente, avaliaram a visita do Presidente João Lourenço à Casa Branca, e agora como interpretaram as palavras do embaixador Tulinabo Mushinge, há alguns dias.