há aqueles dias em que as notícias acabam por não ser notícias, ou seja, se- ria melhor que não fossem anunciadas porque se privilegia a anormalidade contrariamente àquilo que deveria ser o normal.
A entrega de merenda escolar aos mais novos, aqueles que frequentam as classes de iniciação, é um projecto que desde cedo foi adoptado pelo Executivo angolano, pese embora o facto de, apesar dos investimentos feitos, não ter atingido a maioria das escolas do país.
No início do projecto, segundo informações avançadas na época, algumas empresas ligadas aos sectores da alimentação e não só tiveram a primazia de abocanhar o negócio. Eram elas que tinham a missão de fazer chegar em algumas escolas os produtos que compunham a merenda, sendo que nas grandes cidades capitais, principalmente, era composta por lacticínios e outros de panificação para matar a fome dos mais novos.
Desde então, vozes houve que se batiam em relação à confecção da merenda na zona rural, muitas das quais compostas por municípios com fortes potencialidades agrícolas, o que se pensava a dado momento constituir uma mais-vália para os mesmos.
A verdade é que nem sempre foi assim, ou seja, parece que existiam forças que assim não entendiam, talvez porque comprando de empresas ou adjudicando estes contratos a determinadas entidades fosse mais agradável do que apostar naquilo que é produto local.
É o que se passava aqui próximo na Quiçama, em Luanda, um município potencialmente agrícola, mas onde os alunos eram alimentados fundamentalmente de sandes de queijo e fiambre provenientes da capital do país. Só que elas chegavam, quase sempre, já quase deteriorados, o que fez com que felizmente se apostasse nos recursos que o próprio município produz nos seus vastos campos agrícolas.
Na Quiçama, agora, a notícia é aquilo que numa situação normal nunca teria deixado de ser, por- que, se calhar, para alguns responsáveis alimentar-se de produtos industrializados acaba por ser mais agradável ou saudável que os naturais.
Hoje, os meninos estão alimentar-se de papa de rolão, sopa de feijão, abóbora e sumos naturais de múcua, limão, laranja e mistura de frutas. Trata- se de produtos provenientes dos campos de cultivo da população local, o que ainda acaba por gerar renda a estes camponeses sem grandes constrangimentos de transportação e outros encargos próprios resultantes de operações do género que envolvem instituições públicas.
Seria bom se o exemplo que se vive hoje na Quiçama fosse reproduzido também noutros municípios, o que acabaria por estimular os agricultores das demais localidades, deixando-se os produtos industrializados para momentos menos comuns.