Há dois dias, antes mesmo de o Botafogo de Bastos Kissanga, o futebolista angolano que actua no Brasil, ter vencido o ‘Brasileirão’, vi as imagens do cônsul de Angola no Rio de Janeiro irromper os meus aposentos num espaço honroso, o telejornal da Televisão Pública.
Para muitos, o tempo dispensado, o horário nobre e o facto de tal personalidade da diplomacia angolana se ter pronunciado sobre o futebolista angolano e as suas conquistas poderiam parecer um desperdício, mas isto não corresponde à verdade se se tiver em atenção o que este representa e tem feito em nome do país que o viu nascer.
Quem acompanha as informações em muitos países do mundo ter-se-á há muito apercebido dos desta- ques que as cadeias nacionais dão aos seus concidadãos, por se tratarem de activos que podem servir de élan para outras oportunidades. Basta ver, por exemplo, o que ocorre na realidade portuguesa, como são tratados os seus futebolistas e outros quadros, mesmo quando eles são apenas acessórios em determinadas acções.
Mas, ainda assim, os órgãos dos seus países invertem a pirâmide colocando-os no centro da atenção, o que acaba por granjear, posteriormente, outras atenções. E o exemplo de Cristiano Ronaldo, hoje praticamente em fim de carreira, é um destes casos. E Angola, que agora vai tendo uma plêiade de futebolistas nos quatro cantos do mundo, incluindo nas principais ligas de futebol do mundo, não se pode inibir de mostrá-los, vender estes produtos, o que acabará por incentivar clubes e empresários a aumentar o interesse pelos atletas nacionais e até as escolas de formação.
Hoje, os atletas de futebol tornaram-se numa verdadeira fonte de captação de receitas que, se bem investidos nos seus países de origem, podem produzir efeitos nas suas economias, com a criação de negócios e outras aplicações financeiras, com fortes impactos nos sectores sociais, gerando postos de trabalho e rendimentos para os seus compatriotas.
Há muitos casos na África Ocidental e Oriental de sucessos proporcionados por jovens jogadores que um dia deixaram as suas terras e regressaram para, com o dinheiro do futebol, proporcionar escolas, postos de saúde, creches e infraestruturas desportivas, que se supunham ser só da responsabilidade das autoridades governamentais.
Alguns fazem-no usando o dinheiro do próprio bolso. Mas outros, dado o sucesso que evidenciam dentro dos campos de futebol ou quadras de basquetebol, associam-se a filantropos ou iniciativas do género para financiar ou apadrinhar estes projectos.
Desde que aportou no Botafogo, no Brasil, depois de ter passado pela Itália e Rússia, Bastos fez com que milhares de brasileiros afectos ao clube que representa e não só se interessassem por Angola, as suas gentes e culturas.
Mais do que um futebolista, Bastos transformou-se, igualmente, num embaixador de Angola nas terras do Samba, onde, à sua maneira, fornece aos brasileiros muito do que antes não sabiam sobre o nosso grande e maravilhoso país. É olharmos para a repercussão quando veste a camisola de Angola ou até mesmo quando é a figura principal num triunfo da sua equipa, como vai ocorrendo.