Creio que tenha sido num noticiário da Televisão Pública de Angola (TPA). A imagem de um encarregado de educação com cadeiras que antes tinham pertencido a uma das escolas públicas da área, na altura expostas em alguns compartimentos da sua residência, deve ter também chamado a atenção de muitos que terão assistido à peça jornalística.
O que deveria servir para o usufruto dos mais novos, incluindo, seguramente, os filhos daqueles que acabaram por surripiar as carteiras, servia agora de mobiliário para os chico-espertos. Não admira sequer que alguns deles tenham dias depois amaldiçoado o próprio Executivo por conta da falta de carteiras que se observa ainda em muitas escolas públicas, em quase todas as províncias do país. Agora, mal arrancou o presente ano lectivo, voltaram a surgir informações de crianças que ainda estudam em condições inóspitas, sobretudo na periferia das grandes cidades. Houve até no passado uma pequena manifestação em que um grupo de alunos, em Luanda, comandados por um professor, exigia melhores condições nas salas de aula, incluindo carteiras.
Sempre que se constrói uma escola, independentemente do local em que se encontre, uma das preocupações tem sido colocar as respectivas carteiras. Estas mesmas que, se não estragam com o passar do tempo, então são surripiadas até mesmo por encarregados e os amigos do alheio, sendo que algumas até acabaram por parar em algumas confissões religiosas.
Nos últimos dias, graças ao PIIM e outros projectos governamentais, muitas escolas, sobretudo do primeiro ciclo, vão sendo inauguradas e apetrechadas. O que se tem feito para que os beneficiários não se sintam tentados em aliviar estes meios ou usem de forma que venha a reduzir o tempo útil?
A não preservação dos bens públicos tem sido um dos maiores inimigos também do próprio Executivo. Quando mais inaugura infraestruturas, também aumentam os problemas quanto à conservação, acabando por algumas destas infraestruturas ou serviços se tornarem em novas dores de cabeça para quem dirige.
É ponto assente que é missão do Executivo criar condições para que os cidadãos vivam melhor, em termos de habitabilidade, saneamento, circulação de pessoas e bens, saúde e não só. Mas, por outro lado, há também por parte destes responsabilidades acrescidas para que possam manter durante o máximo de tempo possível as infraestruturas e outros bens que vão recebendo.
Dirão uns que se trata de uma responsabilidade do Estado criar e proporcionar tais meios. E não é mentira. Porém, é preciso que quem usufrua também tenha o bom senso de fazer com que estes bens per- durem no tempo e possam, se calhar, beneficiar as gerações vindouras, o que não acontece.
Se duvida, dê um salto à rua da Mufulama, por detrás do Nova Vida. A estrada que liga ao condomínio Jardim de Rosas e o Hospital Pediátrico Azancot de Menezes, inaugurado, recentemente, no âmbito do PIIM, já vai apresentando alguns buracos. Muitos dos que aí vivem à berma vão colocando insistentemente água no asfalto, apesar dos pontos de escoamento existentes.