Quem nasceu nos anos 60, 70 e 80 lembrar-se-á de certeza de que Luanda, antes da pressão populacional que viveu nas décadas a seguir, era uma província com muitos espaços onde as pessoas poderiam circular e os mais novos e mais velhos jogarem futebol. Foi assim durante muito tempo.
Quem, como eu, cresceu na periferia de Luanda, mas concretamente no Cazenga, não se esquece dos grandes ‘trumunus’ nos campos da Borracheira, Refrinor, Bolama, Sucata e tantos outros.
Os anos se foram passando e, ao mesmo tempo, também os campos pelados enxugando, dando lugar a residências, armazéns e lojas, muitos dos quais hoje dominados por comerciantes e empresários estrangeiros.
Quando se construíram as novas centralidades, como a do Sequele, Kilamba e outras noutras províncias, esperava-se que na sua estrutura arquitectónica pudessem constar não só as habitações, como casas isoladas ou apartamentos, assim como espaços para lojas e outros serviços.
Nalgumas centralidades, é visível a existência destes serviços. Há também outras que possuem de forma exígua, o que fez com que determinados cidadãos usassem as suas residências para este fim, acabando em deter- minados momentos por violar as próprias regras e as cláusulas dos contratos assinados quando se recebeu o imóvel.
A existência de áreas reservadas para lojas nas imediações, acreditamos que tinha como fim permitir que, numa dada altura, se pudesse estender nestas as referidas áreas de serviço, mas nunca em locais que servem para jardins ou parques.
Mas, aos poucos, me vou convencendo de que temos uma vontade férrea de atentar contra tudo que parece normal.
Em Luanda, na Centralidade do Kilamba, assim como na sua extensão KK, assiste-se, nos últimos tempos, a uma ocupação desenfreada de áreas em que não eram supostas haver lojas ou outros estabelecimentos comerciais, uma situação que vai chocando com o projecto arquitectónico inicial.
Infelizmente, quase todos os espaços ao redor dos prédios vão sendo ocupados para novas construções, muitas das quais poderiam ter sido erguidas nos terrenos há pouco vendidos pela defunta EGTI.
Não sei quais são as razões que têm levado as administrações, e até mesmo o próprio Governo Provincial de Luanda, a permitir tais construções. Mas a verdade é que não falta muito para que estas novas centralidades, que um dia serviram de cartão postal para as personalidades internacionais que nos visitavam, se venham a tornar num autêntico ‘matongue’.