São poucas as vezes que uma conversa entre dois jovens acaba por perdurar no tempo e na memória daqueles que escutaram. E uma das que pude ouvir, durante o Fórum de Negócios e Conectividade, em Benguela, perdurará muitos mais anos.
Não retive o nome deles. Nem sequer quis colocar o nariz no que nem sequer percebia, mas tenho a plena certeza de que os dois rapazes não possuíam mais de 30 anos. Mas a conversa ultrapassava as expectativas, principalmente numa era em que Angola vive uma alta de desemprego.
Os dois estão envolvidos no sector agrícola. São produtores de alho e outros produtos hoje com uma forte procura no mercado, contando inclusive com compradores oriundos dos países vizinhos, entre os quais a República Democrática do Congo.
Um deles, que parecia ser mais novo, dizia ao outro, que naquela altura já não tinha sequer produtos para comercializar. O que havia no solo já estava comprado, quase na totalidade, embora existisse do outro lado um certo assédio para que vendesse a um outro por um valor mais alto.
Depois de os ter escutado, nunca mais deixei de pensar nos dois rapazes que participavam do evento, provenientes das províncias do Huambo e, talvez, do Bié, províncias que nos últimos tempos vão observando o nascimento e afirmação de verdadeiros empresários agrícolas, alguns dos quais hoje vão empregando dezenas e até centenas de cidadãos.
Num país com o desemprego à perna, o empreendedorismo tem sido a saída para muitos jovens e até adultos, enquanto outros continuam a aguardar esperançosamente que seja o Estado a criar todas as condições para melhorarem as suas vidas.
Na verdade, são inúmeras as oportunidades que o país possui, muitas das quais vão sendo aproveitadas por forasteiros, muitos dos quais provenientes de países cujos nomes só líamos nas lições escolares ou em alguns jogos. De visita à capital de uma província neste fim de semana, pediram-me que fosse ao mercado adquirir alguns produtos que esperava encontrar à mão de semear.
Mas ledo engano. Uma das explicações que me foi dada, por exemplo, em relação à ausência até mesmo de hortaliças, era de que as terras não eram favoráveis a este tipo de culturas. Claro que não acreditei, porque não podia ser verdade, uma vez que existem alguns poucos que se atrevem a fazê-lo.
Tenho fé que se aqueles dois jovens que ouvi, sem querer, a falarem de grandes hectares de alho e feijão vissem esta oportunidade, claro que não iriam descurar e iriam faturar à grande e à francesa. Às vezes, é só mesmo uma questão de visão e nada mais