Há cinco meses, numa conversa de bar, um amigo reflectia sobre alguns conselhos e informações que recebera de uma madre, algures nesta vasta Angola. Dizia ele, na altura, que uma das questões que lhe fora apresentada era de que tinha chegado a hora de se debater, claramente, o enorme crescimento populacional que vamos assistindo com uma alta taxa de natalidade.
Embora ainda não tenham sido apresentados os dados referentes ao último censo, realizado em finais do ano passado, as expectativas apontam já para uma população de mais de 30 milhões de angolanos.
Por exemplo, o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) estima que o país registou um crescimento populacional cifrando-se em 38,9 milhões de pessoas em 2024, ou seja, perto de 40 milhões de pessoas.
Em regra, a população vai acrescendo a uma velocidade estonteante de 3 por cento, incapaz de ser acompanhada pelo crescimento ou desenvolvimento económico. Em prática, pela velocidade com que nascem novos cidadãos neste país, era necessário que Angola crescesse, no mínimo, na mesma proporção, o que não tem vindo a acontecer há anos, apesar das necessidades prementes em sectores vitais que se observam diariamente.
Diante de uma situação real que deverá merecer a atenção de vários sectores, a prática nos vai demonstrando ainda que não se trata de uma problemática de fácil resolução. Devido ao seu tecido social, o país encontra-se – e estará assim por muitos anos – dividido em dois polos. Um que, por conta até das sérias dificuldades que se vive, percebe que quanto maior for o número de filhos, mais difícil também poderá ser sustentá-los.
E do outro permanecem aqueles que não acreditam em teorias malthusianas, escudan- do-se em razões religiosas e culturais para que não abrandem, cientes da velha e divina missão do ‘multiplicai e enchei a terra’.
Tanto nas zonas mais urbanizadas como nas rurais, não há muita diferença na referida abordagem, sendo até quase um insulto aconselhar- se alguém para que só faça filhos em números acima da média caso tenha condições para os sustentar.
Um colega de profissão dizia, em tempos, que conselhos do género que dera a uma sobrinha quase que se transformaram num problema fa- miliar, correndo o próprio sérios riscos de ser apodado de nomes que jamais iria esquecer. É assim, infelizmente, na maioria do território angolano.
Não é por mera casualidade que, com base em informações publicadas ontem, na localidade de Marimba, em Malanje, a Direcção Municipal da Acção Social desta localidade mostra-se preocupada com o aumento de casos de meninas grávidas, muitas sob a alegação de ser cultural, bem como o índice de fuga à paternidade, mas, quando o único médico da localidade Ministra palestras sobre planeamento familiar, as mães vêem nisso uma “ameaça” à continuidade das famílias.